Da convivência inocente entre primos, que nascera nas aulas de Maria
Magdalena Mendes Campello Hosken, crescera entre Carlos Arthur Hosken, (Totó) e
Magdalena Pereira da Cunha, (Nhanhá) uma simpatia mútua que anos mais tarde os
levariam ao altar.
Desde criancinha, na
casa de seus avós: Thomé Mendes Campello e Rita Benedita, os meninos já
brincavam juntos amparados pelos olhos vigilantes da vó Rita e das mu cambas da família...
Se o avô Guarda-Mor era fechado e bravo, a avó era toda cuidados com os
netinhos que iam buscar na despensa da sua casa, as gulodices que as mães
negavam fora do horário.
Cheios de filhos e netos, o solar do Guarda-Mor era o paraíso dos
meninos que tinham na velha Nhana, uma aliada para toda sorte de extrapolias
que os netos tinham o direito de fazer.
As atrapalhadas aumentavam, quando o tio Antônio e Policena, vinham de
Santana de Trahyras as margens do Rio das Velhas, para visitarem os pais e
familiares de Catas Altas.
Filho a distância, é como diz a bíblia: Cordeiros tresmalhados que
necessitam mais cuidados dos pastores...
Quanto mais cuidados, mais direitos achavam que tinham os meninos que
viviam distantes dos parentes dos sertões das Minas Gerais.
Eram tantos os netos e primos entre eles, que o avô já não dava conta
de seus nomes e de quem eram filhos...
Trocando nomes e até os pais, a meninada achava que o avô já estava
caducando no peso dos anos.
A convivência dos primos sob um mesmo teto dos avós gerava simpatias
que mais tarde estreitava ainda mais, os laços dos Mendes Campellos, Pereiras
da Cunha e Hoskens.
Totó e Nhanhá não negariam o sangue e o hábito familiar, como não
negaram os irmãos dos noivos: Maria Magdalena Hosken Júnior e João Pereira da
Cunha, que se casaram 5 anos antes.
Quando os casais eram meninos, cursaram a mesma sala de aula, pois
naquela época, a escola englobava todas as classes sob a orientação de uma
única mestra.
Era duro para os veteranos, ouvir a cantilena repetitiva do B + A = BA
dos novatos da escola, mas não havia jeito naqueles tempos de separá-los por
classes.
Crescendo amigos e colegas, pela simpatia da mestra que também era mãe
de um e tia de outra, os sentimentos de afeto iam avolumando-se.
Carlos Arthur e Anna Eugênia moravam com os pais no casarão que fora da
Companhia do Pitanguy, no fim da rua de cima e Nhanhá na praça da matriz, bem
no centro do arraial; famosa por ser conhecida como: “Casa do Adro”.
Com a casa da Mineradora quase caindo, os filhos estavam erguendo para
o inglês, uma nova na ladeira que dava acesso à praça da matriz.
Pronto o chalé, o velho inglês teimava em não mudar e como gato
apegara-se ao casarão onde viveria seus últimos anos.
Perto estava a igrejinha de Santa Quitéria, de tão doces recordações e
também o Pitanguy e Morro d’Água Quente, onde minerara para a Anglo Brazilian e
depois para a Mineradora do Pitanguy, até o ano de 1.887.
Sentindo que o velho teimava em não mudar, os filhos consertaram por
conta própria o casarão e ali ele ficou com Magdalena e Niníca, até seus
últimos dias de vida.
Totó e Nhanhá iriam morar na casa construída pelos filhos do inglês,
até que o retiro ficasse inteiramente pronto.
No dia 10 de outubro de 1.881, os sinos da matriz anunciavam um
casamento e o templo encheu-se de parentes e amigos dos noivos.
Como era do costume em Catas Altas , o tempo
da duração do repicar festivo dos sinos,
condizia com a importância de quem iria
se casar.
Os sacristãos sineiros ganhavam pelo tempo que acionavam as cordas dos
badalos.
Bancos tomados, e gente sobrando
pelas laterais e fundo da igreja.
Flores nos altares e na passarela da nave por onde em procissão
passariam os noivos e os convidados de Carlos Arthur Hosken e Magdalena Pereira
da Cunha; membros dos maiores troncos de famílias do lugar, os Mendes Campello
e Pereiras da Cunha.
De ternos completos na cor escura, camisas brancas de colarinhos
engomados, os irmãos vindos especialmente de Carangola, desfilavam como se
usassem uniformes, tal a semelhança da roupagem e elegância como voltaram a
Catas Altas depois de tanto tempo.
Do lado da família da noiva os Pereira da Cunha sabedores como vinham
os futuros cunhados da irmã, exibiam uniformes da Guarda Nacional, com todos os
alamares que comportava o uniforme oficial.
O pai da noiva, capitão Vicente Domingos Pereira da Cunha e seus
filhos raras vezes tinham a oportunidade
de se exibirem naqueles trajes; quando podiam faziam com todo esmero.
Não bastasse a alegria provocada pelo casamento, os meninos do inglês,
estavam de retorno a Catas Altas, demonstrando com suas presenças, que valera a
pena a mudança para a terra prometida...
Niníca não precisava preocupar-se com o par que a acompanharia, um dos
5 irmãos certamente a conduziria de braços dados no cortejo até a igreja...
Dois cortejos distintos se encontraram no adro da matriz o que vinha de Santa Quitéria e o que saia da
casa da noiva.
Como era belo, o festejar das famílias os enlaces de seus filhos!
Em ambos os séquitos, o foguetório acompanhava o noivo e a noiva, por
onde passavam.
E aumentava ainda mais, quando no largo da matriz as famílias se
encontravam; todos os sinos das torres repicavam ao mesmo tempo...
Como no interior da igreja, havia os bancos familiares em 2 alas, as
famílias continuaram separadas, pois dentro das igrejas antigas, as famílias
assentavam-se em seus próprios bancos, exatamente nos lugares mais próximos
onde estavam enterrados seus parentes
mais queridos.
Privilégio que somente os ricos gozavam nas igrejas...
O noivo ante os degraus da escada de acesso ao altar, esperava a noiva
ao lado dos seus pais.
Edward Hosken, poucas vezes entrara naquela igreja, objeto da atenção
geral dos presentes; pois havia a crença geral de que ele nunca entrara em
templos católicos...
Apesar da amizade da esposa e filhos com a pessoa do vigário, ele não
se sentia amigo, pois havia uma diferença entre eles...
Para os padres e a população em geral, era inconcebível o procedimento
religioso do inglês, afastado da igreja.
Para ele que nascera anglicano, o absurdo seria mudar de crença para
contentar os que implicavam com a sua fé religiosa...
Os filhos sempre tiveram a liberdade de escolherem o caminho religioso;
resultando nesta concessão que, uns seguiram a fé paterna, outros a da mãe
católica.
Nas cerimônias religiosas, as irmandades compareciam com suas vestes e
símbolos e os pais, da noiva ostentavam as opas da venerável irmandade do
Santíssimo.
No imenso largo da matriz, uma multidão aguardava a passagem dos
noivos, para em seguida, também acompanharem a comitiva.
Corcéis com arreios e selas enfeitadas com adornos de ouro e prata, mostravam que ainda chegando o findar
século XIX, os herdeiros dos mineradores,
guardavam o fausto de uma era passada.
O pai da noiva, o tenente da Guarda Nacional; Vicente Domingos Pereira da Cunha, ostentava
por baixo da opa vermelha, o seu uniforme de gala na cor azul, com as dragonas
e os alamares de ouro.
Era principalmente nestas festas, que os jovens encontravam seus
futuros pares.
Havendo casamentos com a presença da melhor sociedade, havia os
encontros dos moços onde os flertes atraiam
simpatias.
Daí surgir nas mesmas famílias, os casamentos entre os primos ou os
novos parentes, era o caso dos nubentes que se casavam naquele dia.
Logo que a menina entrava na puberdade, os pais procuravam alicerçar as
alianças, antes que o “Cupido” fizesse por sua própria conta.
Não era o caso de Carlos Arthur Hosken e Magdalena Pereira da Cunha,
pois desde meninos se sentiam atraídos por uma forte simpatia.
O casamento por amor, vinha da convivência de ambos desde criança, nos
quintais dos avós e tios, depois na escola.
As famílias além dos laços fraternos tinham em comum uma aliança que
também os uniam: A Guarda Nacional de cunho militar.
Assim como era chique e um dever cristão pertencer às irmandades
religiosas, também era importante congregar-se a Guarda Nacional de natureza
patriótica.
Foi graças a esta corporação, baseada por inspiração francesa e fundada após a Independência, que se formou
no Brasil e especialmente em Minas, uma casta hierárquica organizada.
Dai nasceram os títulos e as patentes dos Tenentes Coronéis, Coronéis e
Capitães...
As famílias que se uniam através de Carlos Arthur e Magdalena, neste
casamento de 10 de Outubro de 1.880, ostentavam os seus pais, os títulos de
patentes históricas.
O noivo, filho de capitão de mina, a noiva, filha do tenente da Guarda
Nacional.
Com as patentes incorporadas ao nome, o prestígio social crescia e dai
vinham as alianças matrimoniais, os compadríos e as simpatias partidárias na
política vigente.
Quando faltava amor nas alianças dos filhos se casando, havia o
interesse e o prestígio por trás dos casamentos tramados.
Quando os consórcios por interesse sociais traziam os desencantos após
os sucessivos partos, as mulheres encontravam prazer no criar de seus filhos,
E os maridos, nos braços de suas escravas ainda púberes.
As próprias mães escravas incitavam as crias ao charme e as seduções
aos sinhozinhos.
Pego na arapuca e fascínio do “xibiu” virgem, Nhô tornava-se mais
sensível aos apelos das escravas amantes...
Na casa grande, com l5 anos as meninas se casavam e aos 30 já eram
matronas acabadas aos olhos de seus esposos.
O século XIX também envelhecia e com ele, os hábitos e costumes sociais
que ficariam para trás, após a Abolição da Escravatura.
A pobreza gerada com a Guerra do Paraguai e a conseqüente repressão
econômica da abolição em 1.888, colocara
os negros a sabor das especulações do poder de quem tinha dinheiro.
Pela Lei Áurea, acabara a escravatura, pela lei da fome os escravos
livres continuaram amarrados aos seus antigos senhores.
O senhor já não tinha tanta força para mandar e o escravo a obediência
a prestar.
Os latifúndios e casarões antigos iam perdendo sem a força do trabalho
escravo, o encantamento da arte da construção barroca.
O status declinava com a falta da produção e do dinheiro que ela
gerava.
Se na época da escravidão, a arquitetura barroca deixava a desejar no
aspecto comodidade higiênica, o que não estavam passando os senhores
escravocratas no período de transição entre a Abolição e a Nova República?
Os hábitos teriam forçosamente que mudar; não havia mais o escravo para
carregar os dejetos dos urinóis e das escarradeiras, derramados pelos
sinhosinhos; era necessário um anexo planejado junto da casa para comodidade da
família.
As louças inglesas da higiene, (bacias, escarradeiras e pinicos) talvez
custassem quase tanto, quanto os novos sanitários de louça com água encanada.
A Abolição da Escravatura apanhou o filho do inglês, Carlos Arthur, em
plena atividade da construção de sua futura propriedade.
Fazia-se necessário modificar seus planos no projeto da casa do retiro,
a mão de obra dependia do trabalho remunerado e a fábrica planejada da
vinicultura, teria que ser operada por empregados assalariados.
A falta de recursos obrigava a Carlos Arthur, a cortar ou improvisar
cômodos e prescindir de coisas tão importantes, como água encanada em toda a
casa.
Menos onerosa, para seus parcos recursos, a guarita higiênica ficaria
sobre o rego da água de serventia que
correria por baixo em vala aberta.
Simples, menos complicada e custosa, ela serviria durante algum tempo,
até que a situação financeira permitisse sua construção junto da casa.
Se, faltava água encanada dentro do casarão, não faltava mananciais nos
regos e córregos da propriedade.
Para os homens e a meninada, os banhos nos riachos dispensariam o
conforto das banheiras e os pinicos, o conforto das latrinas.
Aos mais velhos, as gamelas e as bacias serviam aos banhos corporais e
a guarita do quintal, as delivranças pessoais...
As bacias eram tão numerosas, que antes de se deitar, cada pessoa ia
lavar os pés sentados no banco sob a prateleira da cozinha e enquanto
descansava os pés na água morna, fazia
sua última alimentação do dia.
As tigelas de louças eram conduzidas pelas negras livres, o mingau, o
leite fervido na raspa do angu e os biscoitos das fornalhas semanais.
O ritual reunia todas as noites os familiares para abluções do rosto,
pernas e pés, coisa encantadora no último encontro do dia.
Enquanto se lavavam, aproveitavam o encontro noturno para recomendações
dos afazeres do dia seguinte.
Ali se fazia o planejamento das tarefas a realizar; também as
reprimendas para que não se repetissem as coisas mal feitas...
Relaxando os pés no pedilúvio do sono, ele não demorava a chegar nos
colchões de palha e travesseiros perfumosos da macela.
As crianças não sabiam por que as matronas não se juntavam ao lava-pés,
preferindo a intimidade de seus quartos, para fazerem as higienes.
Somente depois de mais velhos, compreenderiam a importância do
“chape-chape” nas bacias; últimos barulhos que se ouviam antes que o sono
chegasse.
Com a libertação dos escravos a construção das obras do retiro atrasou
e na primeira moradia de Carlos Arthur e Magdalena Pereira Hosken, em Catas Altas , nasceram:
Emídia Adelaide Hosken, em:........................................... 05 - 10 - 1.884.
Cloves Hosken,
em:............................................................ 07 - 10 - 1.887.
Cledes Hosken,
em:.........................................................… 20 - 07 - 1.890.
Godofredo Hosken,
em:...................................................... 13 - 02 - 1.892.
Depois do nascimento de Cloves; com a Proclamação da República em l5 de
novembro de 1.889, a
Monarquia dava lugar à República e importantes acontecimentos históricos
marcariam a vida política e social do país.
Catas Altas que sofrera com as conseqüências do esgotar do ouro, voltava a ser abalada pela liberdade
dos escravos.
A devastação do solo causada pelas minas voltava a penitenciar a terra
sem a mão de obra escrava.
A pobreza em que ficaram os senhores escravagistas, tanto mineradores
como os fazendeiros de grandes latifúndios, anestesiara a imaginação e Catas
Altas, abatida e inoperante, sucumbia ao desalento.
Uma nova perspectiva econômica teria que se abrir ao arraial do ouro e
foi no espírito renovador do padre Manuel Mendes Pereira de Vasconcellos, que
chegou a luz que faltava.
O sopé da Serra do Caraça, iluminado pela clarividência do padre
Mendes, partiu para a redenção econômica, enveredando para o campo.
Renovadas idéias, pregadas há 1.800 anos antes pelo homem de Nazaré,
chegaram ao povo francês dando a “Igualdade e a Fraternidade” um século antes.
A justiça ao homem de cor, só chegara ao Brasil, 100 anos depois da
Queda da Bastilha.
O ato da Abolição proclamado pela princesa Isabel, iria por sua própria
natureza derrubar o regime monárquico
que seu pai e avô enfaixara por tantos
anos.
A Abolição da Escravatura não era só um ato de justiça, era também um
golpe contra o próprio regime vigente.
As forças conservadoras onde se apoiava o imperador, sentiram-se
traídas com a perda da força do trabalho escravo.
Sem base do apoio popular e enfraquecido por um Ministério Misto de
Conservadores e Liberais Republicanos, a monarquia ruiu sob o peso dos anos de
D. Pedro II.
Aos 63 anos de idade, doente e sem a visão do que ia por trás das
artimanhas políticas, foi perdendo as rédeas de governo.
Tanta fé depositava ele, o imperador, em seu povo e nas instituições...
E o que foi acontecer no dia 15 de novembro de 1.889 ao despreocupado
imperador, exercitando sua arte
literária, escrevendo dois sonetos?
O monarca confiava em seu povo muito amado.
Nas primeiras horas do dia l7 de novembro, madrugada ainda, fora acordado
já destronado e intimado a deixar o país.
Desperto pelo tenente-coronel, João Nepomuceno de Medeiros Mallet,
assusta-se com a notícia da destituição e do exílio que teria que tomar.
A Nova República reservava á família imperial um hediondo suplício:
Deixar em poucas horas as terras do Brasil...
Terra em que nascera bem como os filhos; terra que seu pai libertara,
apesar de português.
Debaixo de uma chuva fina, a família imperial foi embarcada sem alguns
dos filhos.
Pedro de Alcântara, Luís Felipe e Antônio Pedro, meninos contando
respectivamente, l4, 11 e 8 anos.
Os meninos gozavam férias no palácio de Petrópolis.
Além da perda do trono, tinham a desdita de serem obrigados a deixar os
filhos.
Sem saber como poderia retomá-los; os pais sofriam as incertezas do que
poderia acontecer a eles...
D. Pedro de Alcântara que
passara pelo golpe de se separar de seus pais aos 6 anos de idade, estava na
iminência de pela segunda vez, sofrer o mesmo trauma...
Por compreensão de políticos mais sensatos, os filhos foram apanhados
na serra de Petrópolis e entregues aos pais, para seguirem juntos para a
Europa...
Com 57 anos no poder, sempre dedicado à nação, Pedro de Alcântara
sacrificara a infância e a juventude para cumprir a missão que o destino lhe
dera.
Como sempre, a ganância do poder dos políticos era maior que a
sensibilidade ao dever da gratidão.
A impunidade ao arbítrio dos republicanos, não ficaria esquecida com o
passar do tempo.
A própria política dos primeiros anos da República, vingaria o ato
irreparável a um dos maiores brasileiros da sua história.
D. Pedro II não pensava assim, ele amava profundamente a terra de Santa
Cruz.
Como prova de seu amor, levou para seu exílio um punhado da terra, o
bastante para fazer o travesseiro onde dormiria o seu sono eterno...
A invalidez do Imperador nos seus últimos anos de governo; diabético e
sofrendo o impaludismo, obrigara ao monarca a despachar os atos imperiais, com
sua filha a princesa Isabel.
Ela casada com o príncipe francês, Gastão de Orleáns, o conde d’Eu, não
simpático ao povo e ao exército, concorria para que a República viesse mais
cedo do que se esperava.
O conde d’Eu era tido como avarento e presunçoso, apesar de seus
serviços prestados ao exército brasileiro como militar.
Tudo conspirava contra o império.
O gabinete imperial não se preocupava com os discursos inflamados de
Rui Barbosa contra a forma de governo.
As leis fazendárias, o aumento da circulação do dinheiro, a proteção da
lavoura, o apoio ao comércio, pareciam medidas eficazes contra a onda de
descontentes republicanos.
Naquele ano, comemorava festivamente os 100 anos da Revolução Francesa;
os estudantes faziam da sua lembrança, um estandarte contra o Império.
A falta de um Ministério com um pulso firme para debelar os males que
nasciam, alastrava-se com a lembrança da Abolição da Escravatura.
A sede do governo na maior cidade do país sofria influências de uma
minoria ambiciosa do poder.
Na região da Serra do Caraça, como no interior em geral, Sua Majestade
gozava da simpatia e apoio irrestritos.
O respeito e amor do povo humilde do interior de Minas fora demonstrado
na visita que D. Pedro II fizera a Minas em l.881.
No Caraça, todos se lembravam da admiração do casal imperial pelas belezas
naturais, se esquecendo das ingratidões humanas.
Ao lado dos padres e dos 300 alunos, ele revigorava e sentia prazer em
debater com os padres vicentinos e seus alunos.
D. Pedro se informava de tudo e queria saber como ia o ensino do
estabelecimento, sabatinando os alunos.
Um deles, o seminarista Rodolfo Augusto de Oliveira Pena discorria
sobre os poderes:
Civil e Religioso.
Em dado momento da dissertação o estudante declarara que:
- Entre dois poderes paralelos, o eclesiástico era superior ao civil.
D. Pedro não concordou com a afirmação que o aluno deveria ter extraído
dos livros ou das aulas.
Levantando-se da cadeira onde se encontrava sentado, rebateu o que
ensinara os padres.
Padre Chavanat socorreu ao aluno dizendo que nas questões mistas, a
decisão cabia à Igreja.
A reação do monarca foi imediata, surpreendendo aos alunos e ao padre
superior que teve que desviar o assunto, sabatinando outros alunos
Sempre preocupado com a instrução do povo, ele ao partir deixou a
seguinte frase registrada nos anais do Caraça:
- “Se não fosse Imperador, gostaria de ser mestre-escola...”
Por volta de 1.890 no advento da
República, o inglês E.M. Touzan que residia no Brasil arvorou-se como dono da
Mina do Gongo Soco e partiu para Londres com o intuito de fundar o Sindicato:
“BRASILIAN GOLD EXPLORING SYDICAT LIMITED”.
Com sua habilidade, tentava reclamando na Justiça, os direitos de
lavras que já havia extinguido e que se associando aos senhores:
LOOT, OCCAR, GRINLE e JOÀO EVANGELISTA REZENDE; que buscavam como procuradores do Sindicato, o
direito da reintegração de posse.
Era o fim definitivo; fechava-se a história da exploração do ouro em Gongo Soco e Catas
Altas...
Restara no mesmo subsolo, as ricas jazidas de ferro a serem exploradas
no futuro século XX e encerrava a mais bela página de uma época de OURO...
Sem a atividade geradora de riquezas e trabalhos que o ouro
proporcionava, o arraial ficou confinado as escassas produções rurais da
agricultura e pecuária.
Os forasteiros aventureiros que buscavam o ouro partiram deixando no
arraial, as poucas e tradicionais famílias.
Os jovens convivendo no limitado e fechado meio rural, acabavam se
unindo aos vizinhos e parentes da comunidade.
Algumas como: Os Campellos, Alves da Silva, Pereiras da Cunha, Fonsêcas
Magalhães, Emerys e Hoskens, encontravam nos primos a solução amorosa para
constituírem suas famílias.
Assim se uniram os parentes:
Antônio Alves da Silva e Anna da Fonseca Magalhães,
Fernando Mendes Campello e Maria Magdalena Ferreira,
Ovídio Baptista Pereira e Maria Rita Hosken,
João Pereira da Cunha e Maria Magdalena Hosken Júnior,
Carlos Arthur Hosken e Magdalena Pereira da Cunha,
Domingos Pereira da Cunha e Maria Rita Emery.
Hábito que se tornaria comum através das gerações posteriores.
Catas Altas era um arraial de grandes dimensões e povoado por uma só
família, pois todos tinham laços de ligações entre eles...
Nenhum comentário:
Postar um comentário