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CAPÍTULO XVIII NOVOS TEMPOS


O senhor Raymundo Viegas que morava na Serra do Pinho, estava naquele dia a tropa no curral do rancho da venda do Martinho Lourenço & Filho.
 O fazendeiro negociara parte da produção do feijão preto, com o comerciante João Martins Ayres.
Com o comércio bem estabelecido, pois Catas Altas ficava  nos caminhos que levavam o povo da região  Leste e  Norte, à capital Ouro Preto. 
O número de tropas que passavam por seu estabelecimento, era considerável e ali, os tropeiros faziam negócios, antes mesmo de levá-las  para Ouro Preto a capital das Minas Gerais. 
O fazendeiro Viegas acabara de fechar a venda de uma partida de feijão, quando deu de cara com uma pessoa rara de se encontrar nas ruas do arraial; o inglês Edward Hosken.
A contra gosto do inglês, ele passara a ser chamado de “Velho Eduardo” para diferençar do filho com o mesmo nome.
- Bom dia senhor Viegas!
O que  trás homem  aqui Catas Altas?
- Negócios, senhor Eduardo, negócios que se depositam no paiol, depois não há como continuar guardando-os...
- Estou acabando de fechar a venda de uma partida de feijão, para depois vender o milho que me sobra.
Bom, muito bom encontrar senhor Raymundo; meu filho Totó quer casar  e  querer  comprar terras de  plantar.
Saber eu Serra Pinho melhor terra região e senhor melhor homem poder falar pra eu se verdade... 
- Ora senhor Eduardo, e o ouro?
- É, ouro por mais cavucar, sumiu Catas Altas...
- Se não  tem a flor da terra e nos rios, deve ter por  dentro da serra!
- Sim, sim, mas quem furar serra senhor Raymundo?
- Uai! Vocês ingleses não furaram a serra do Gongo!
- Furar até dinheiro acabar...
 Dinheiro acabar, não tem mais  trabalho mina de ouro.
- Uai,  sô Eduardo, então o jeito é mesmo ir pra roça...
Coincidência ou não, ofereceram-me as terras do Barbosa, que é parte da partilha do inventário dos Monteiros de Oliveira.
- Uê!  Os Campellos não são herdeiros?
- Não eu, meu cunhada Chico é que herdeiro, minha mulher, família  Mendes Campello,  não Oliveira...
- Uê! Se o Chico é cunhado da sua esposa e colocando a venda suas propriedades para mudar para a Mata, porque não comprar da mão dele as terras do Barbosa?
Bom lembrar, sô Raymundo, como não pensar nisto?
- Não saber como agradecer, senhor!
- Não é necessário,  ó gentes!  Não me custou nada para dá-las...
- Então vou ver terras, meu filha está casamento perto e querer tentar plantar...
- Gosto de gente que não tem medo de trabalho!
- Como fala,  senhor Raymundo?
- Ora! Seu menino terá que começar do nada, pois lá só tem matas a desbravar.
- Então,  nem casa morar?
- Próxima existe a do Betancourt, gente descendente dos primeiros cavuqueiros de Catas Altas, o resto é mata a derrubar.
Eu vontade  conhecer  terras que senhor fala!
E por que não vai lá?
- Não conhecer terras...
- Por isto não, eu levo o senhor para ver, pois fazem divisa com minha propriedade.
- Que dia senhor  mostrar eu,  “paradise”?
- Um nome bonito o senhor já tem para o sítio, PARADISE.
- Quem sabe, meu filha não está preparar para entrar Paradise?
Não fácil, comprar “paradise” disse rindo o inglês...
- Olha senhor Hosken!
Qualquer dia da semana exceto o domingo, estarei a sua disposição.
- Então Sexta-feira; Certo senhor Raymundo?
Combinado e aguardando meu futuro vizinho...
Na manhã da Sexta-feira, levantando às 4,30 horas, Edward acordou o filho Carlos Arthur.
Gotinha e Inglesa, as mulas de Totó e do pai haviam ficado presas no pastinho dos fundos e Tomé o criado, foi arriá-las.
Totó que fora ajudar o negro voltou com a calça molhada de sereno e teve que trocá-la para a viagem.
Benedita xingava, pois bastaria ao Tomé a incumbência de campear os animais no pasto, sem que Totó molhasse sua calça.
Maria Magdalena enviava à dona Antônia Marcolina  agrados, raros de se encontrar nas roças.
Com o presente e matulagem dentro do alforje, pegaram as montarias e picaram os animais para o lado da serra do Pinho.
O arraial nesta época tornara mais preguiçoso, ao contrário dos tempos das catas, quando os escravos e seus senhores acordavam às 4,00 da madrugada.
Dorminhoco e tranqüilo só ouviam o tropel dos animais burlando o silêncio com o bater das ferraduras.
Pelas calçadas, animais caseiros cruzavam as ruas fugindo dos cavaleiros e os morcegos davam adeus a noite, antes do arraiar do Sol.
Os alvores do lado Leste surgiam aumentando o clarear a medida que caminhavam.
- Eu gosto de viajar para o lado da nascente, disse Totó para o pai; é como se assistisse o nascer da vida...
Aparentemente, é o clarear primeiro!
- Não  diferençar,  filho!
Se caminhar 100 milhas “East” ou l00 “West”, dia clareia mesmo “moment”, pois, terra muito grande, notar  avançar  raios solares...
Cavalgando lado a lado, chegaram a ponte dos Perdões sobre o rio dos Coqueiros.
- Aqui terra dos Barbosas, sô Raymundo fala vender família  Chico Oliveira, aqui  rio, começa  propriedade; mas onde terminar gleba, eu não saber...
- O senhor está interessado nela?
- Sim, desejo comprar para você tomar conta dela e não viajar para Mata como irmãos seus...
Antes você querer partir como os outros, tentar eu que você ficar aqui, para  alguém  enterrar eu  em Catas Altas...
- Mas pai, os manos partiram por não haver  mais serviço!
- Eu sabe, Catas Altas não mais terra ouro e dos estrangeiros e quem querer continuar vida nesta terra,  ter que fincar  pés e  mãos no chão...
Cavoucar não achar ouro, mas plantar  lavoura e  capim para criação boi...
- Por que esta mudança, pai?
- Porque ouro acabar.
Agora, só   cuidar  terra que nós muito machucar.
Fui tatu furando buracos, aqui, lá e ali,  hoje quer  ser formiga, juntar como elas, tudo num  buraco, para  Inverno que vier pra eu...
Eu perder tudo na  vida!
Pátria, filhos, amigos...
Eu não gosta de padres, mas, que anda falar novo vigário,  sei quanto ele fala certo,  razão  alertar o povo de Catas Altas,  contra minerar ouro.
Ouro aqui, povo sabe que ter; mas tirar debaixo terra, custar muita caro!
Eu arrepender ter gasto anos  minha vida, sacrificado  inferno trabalho;  luta sua mãe,  acompanhar marido doido pelas minas...
Chegada hora, assentar definitivamente vida minha.
Com ajuda filhos, faz casa  sua mãe e  vocês...
Nunca o pai tinha se aberto, como naquela manhã.
Foi lendo a Estranha História do Ouro, que ele modificou o seu modo de pensar, apesar de tardiamente.
A página em que havia lido a história, ele guardara dentro de seu travesseiro, para que, até dormindo meditasse sobre ela:


A ESTRANHA HISTORIA DO OURO:

O seu nascimento é obscuro e humilhante, pois jaz sob os pés de todos.
Sem tinir, nem retinir, sem som grave ou agudo, quase mudo.
Acorda a si os homens, com tão poderosa eficácia, que, por mar e por terra, todos viajam em sua busca.
Não há cansaço, fadiga ou entraves, que barre a esperança do sonhador.
Quanto mais achado, mais procurado e ambicionado.
A natureza ao constitui-lo, colocou-o  debaixo da terra, para que os homens o pisem.
E estes mesmos homens não se envergonham de colocá-lo sobre suas cabeças.
“É ele o incentivo da cobiça, do desvario da razão; tirano da Justiça e contágio da inocência”.

Era outro homem que vencido pelos tropeços da vida, tentava soerguer dos escombros, os alicerces de um castelo que ruíra.
- Então o senhor está arrependido de tudo que fez na vida meu pai?
- De tudo, não filho!
- Vocês, eu fazer com amor e vontade...
Sua mãe sempre lamentar, ausência seus irmãos, dizendo eu culpado partida deles...
Como velho inglês, sem trabalho, estrangeiro; poder segurar filhos junto nós, na terra que ele ser Godeme e ateu!

Godeme pode, pois eu ser, mas dizer eu anti-Cristo, é afronta que pai seu não aceitar...
Pensar bem!  Leis Abolição Escravatura,  acabar  esperanças minhas.
Sem escravos, sem dinheiro, como viver?
Resta eu esperança vocês, meus filhos!
Esta,  razão que  fazer esta viagem.
Do pouco sobra dinheiro, nós comprar terreno para fazer morada e meio vida  para tomar conta sua mãe e Niníca.
Elas ficarão casa nova que construir na rua.
Lá, fazer casa para ter teto delas, não ficar morar casa emprestada de Companhia Pitanguy.
Edward Hosken morava num chalé da Companhia Mineradora do Pitanguy, quase no fim da rua, próxima da capela de Santa Quitéria.
O diretor da mina, senhor Treloar, tinha colocado o chalé a disposição da família de Edward Hosken, pois o mesmo ficava nas proximidades da mineração onde ele era o Encarregado Geral.
Sem dinheiro para consertos, o chalé ia sofrendo os rigores do tempo e Eduardo juntamente com os filhos, já preocupados em construir uma nova casa para eles.
Da zona da Mata vinha uma ajuda financeira dos filhos e com o dinheiro abençoado, Edward Hosken comprou um terreno na ladeira que saia no adro da matriz.
Ali o pai construiria a futura casa quando os filhos viessem passar uns dias em Catas Altas; num mutirão familiar, deixariam a casa levantada, dividida, coberta e assoalhada.
Com o tempo, Totó terminaria as obras de acabamento e pintura.
Todo o plano fora planejado pelos filhos e agora o pai e o Totó, estavam a caminho da fazenda do Sô Raymundo para conhecerem o terreno que estavam planejando para construir um retiro.
Durante a viagem, conversaram sobre o que pensavam e ia observando a região e os terrenos do Barbosa.
Mata quase fechada, rasgada de trilhas para cavaleiros que residiam na região da Serra do Pinho, Mato Grosso e São Miguel do Rio Piracicaba.
Totó ouvira quase calado tudo que o pai dizia, na verdade uma vítima dos infortúnios que a vida costuma preparar para alguns.
Seu pai nunca fora de fazer confidências, certamente desabafava por tudo que ocorrera na sua vida de minerador.
Apesar das queixas tardias, Totó iria fazer tudo que fosse possível para dar ao seu velho pai, um fim mais feliz.
Convocaria os irmãos dispersos para o mutirão da casa para os velhos.
Construiria um sítio onde o pai pudesse freqüentar juntamente com sua  sacrificada mãe.
 Lá criaria os filhos e netos que seus pais reclamavam...
- Que estar pensar, Totó?
- No futuro, pai!
- Ah! é bom pensar futuro...
A mata recendia as essências, principalmente a uma que fugira do seu habitat; Pinus.
Eduardo sabia que o pinheiro é raro nas zonas quentes ou temperadas, por  isto comentou:
- A terra  ser muito boa, pinheiro só dá em terras boas e frias...
- Deve ser por isto que a serra tem o seu nome, não é meu pai?
- Uns falar que sim, outros que nome vir  senhor Pinho, que morar  serra.
Depois de 2 horas de cavalgada, chegaram na propriedade do Sô Raymundo.
Latidos de cães já se ouviam. antes mesmo de avistar a fazenda.
Estranhos como eram, desceram das montarias com alguns cachorros rosnando ferozes, outros acovardados latiam á distância.
Da varanda ouviam-se gritos:
- Saí, saí purgatório!
Quietos, filhos da puta!
Como quietos não ficaram, o jeito foi estalar os chicotes em represália,  presos numa das mãos, enquanto a outra puxava a rédea.
Na porteira do curral, pararam para abri-la tateando com as mãos e de olhos nos bravos guardas da propriedade.
- Calma purgatório! Sossega Noruega!
Purgatório continuou fervendo e Noruega investia contra as chibatadas.
- Ou pestes! Fios da puta é tudo gente dereita!
Um negro gritava para os cães e caminhava para espantá-los.
- “Barking dogs do not bite”!
- Que o senhor disse?
- Palavras minha língua, que dizer:
“Cão que latir, não morder”. 
Totó começou a rir, pois os cães latiam e queriam morder...
- Brabos, muita brabos, senhor Raymundo!
- Cachorrada boa taí, senhor Eduardo!
Levando a mão para cumprimentá-los, o fazendeiro desculpou-se:
- Os cavalheiros por favor, desculpem os cachorros que estão no serviço deles...
Da minha porteira para dentro,  ninguém entra!
- Tá se vendo, tá se vendo, senhor Raymundo!
Pela coragem deles enfrentando os porretes, deram provas de que são capazes!
- Deixemos os bichos e cuidemos de nós, disse o fazendeiro.
Eu já estava a espera de voz Mecês, porém não dei conta que fossem os senhores, pois não me lembrava do menino que o acompanha...
- Este é meu filho Carlos Arthur, um dos mais novos.
- Vamos entrando, vamos entrando, o Sol tá brabo!
Podem tirar o chapéu, pois o calor tá banhando  os senhores.
O suor pingava pelo rosto das visitas.
- Então é este o moço que quer ser fazendeiro?
Batendo com a mão espalmada nas costas de Totó, disse sorrindo:
- Moço corajoso, ainda novo e comprando terras!
Vai enfrentar de uma só vez, duas naturezas brabas!
O campo e a mulher...
- É verdade sô Viegas, vou seguir os mesmos passos de homens como o senhor, sem medo de enfrentar as bravuras que Deus coloca em nossas vidas...
Sábias palavras, meu filho!
Quem tem bom siso, tem que ter também bom piso...
- Ah!  Agora me lembro, voz mecê não é o tal moço do sarau  que recitou o verso?
“Moço chorão por quem chora o coração...”
Eta festa que a gente não esquece!
- Sou o mesmo da brincadeira, sô Raymundo...
Falando baixinho disse no ouvido de Totó:
- Quisera que eu e Marcolina fossemos como voz mecês:
Gente aprumada, corajosa como demonstraram no dia do sarau na casa do Dr. Moreira...
Eu nem sabia que vossa mãe fala língua estrangeira, imagine!
Gente de Catas Altas falando como Godeme; é claro que voz mecê, sô Eduardo, fala por obrigação, mas dona Magdalena!!!
- Cada gente seu saber, senhor Raimundo!
O senhor muita grande fazendeiro, também “musician” e falar língua francesa...
- Nem grande fazendeiro, nem músico e pouco menos falo o francês; tudo isto faço para engabelar o povo, pois meu francês é falado como  papagaio; decorado sem saber o que se fala...
As visitas riram da simplicidade do fazendeiro, quando ele disse:
- Voz mecês sabem que:
Cachorro danado morre atazanado!
Sabendo que voz mecês não estão danados nem atazanados, convido para que os senhores corram a minha propriedade, antes do  almoço.
Depois do almoço e de uma pequena cesta, correremos as terras dos Barbosas.
- Os senhores concordam?
“- Yes, that’s very kind of you!”
Às vezes repentinamente o inglês se esquecia que estava conversando com um brasileiro, que nada entendia de sua língua...
Pardon, eu falo senhor muita, muita amável, pedir nós comer aqui...
- Eu sabia que Voz mecês não iria arrenegar meu convite e já mandei aumentar a água do feijão...
Da sacada da varanda sô Raymundo olhou para um lado, depois o outro, não vendo quem queria, gritou:
- Celestino, ou Celestino!
Não aparecendo quem chamava, foi para o sino dependurado na varanda e bateu com o pequeno badalo, 2 pancadas consecutivas entre intervalos.
Um negro forte sem camisas,  veio correndo  por baixo da varanda...
- Tô aqui Nhô, qui ancê qué?
- Junta os meninos prá toca o gado pro curral, só o leiteiro, o resto está longe, deixa por lá...
O negro saiu correndo se juntando as crias;  todos meninos machos  nascidos na  fazenda.
 Para campear as vacas que estavam mais distantes, montou num cavalinho veloz, esporeando-o sem que houvesse necessidade; os bezerros estavam no pastinho, bem próximo.
Sobre o  cavalo campeador, gritava para os meninos que corriam a pé:
- Cambada de mamparras!
Cês tá tudo de lombriga?
Galopando no animal em pelo, ele e o cavalo pareciam flutuar por cima da pastagem verde.
De longe se ouvia o aboio já acostumado pelo gado e da varanda as visitas e o dono, viam o vaqueiro aparecendo e sumindo por entre valos e moitas de árvores.
As reses atentas, suspendiam a cabeça parando de abocanharem o capim meloso e de vez em quando, respondiam o aboio com um berro conhecido do vaqueiro.
- Muita bonita! Muita bonita para eu!
- Então o senhor gosta da imagem do campo?
- Sim, faz recordar eu, terra minha!
- Não tem coisa mais bonita para mim, sô Eduardo!
Ainda mais, quando o gado está domado e lustroso com o trato...
Em fila indiana, uma a uma, o vaqueiro sem pressa tocava as vacas que paravam de vez em quando para arrancar um capim mais viçoso.
- Meu vaqueiro sabe que não pode assolear minhas riquezas, pois são elas que me dão sustento.
As reses mais ariscas que tresmalhavam, os meninos campeavam numa algazarra de se ouvir a quilômetros.
Meninos não fazem os mandados como devem, mas é assim que tem escola...
Os bezerros vendo as mães aproximando-se berravam como se não tivessem amamentado há poucas horas.
Uma porteira batia com toda força no batente, largada por um pretinho fechando o gado dentro do curral.
Gritos exasperados:
- Purgatório, fio da puta!
 Saí fio da mãe...
Os cachorros tentavam morder os pés das reses mais atrasadas.
Apesar das admoestações aos caninos, os cachorros não ficavam zangados com quem gritava, pois roçavam o corpo do vaqueiro.
Gratificados com o pastoreio, abanavam o rabo ganindo pela satisfação do serviço que para eles era um passeio.
O gado mestiço de amplos chifres mostrava a gordura e o pelo liso; sinal do bom trato e cuidados do seu dono.
O fazendeiro e as visitas desceram até o curral para ver de perto as vacas disputando um lugar no cocho.
Olhando para Totó, disse:
- Menino! Se vai mexer com gado, não se esqueça do sal.
Sal tem tantas virtudes, que nunca pode faltar...
- Nhô, Sá Anastácia mandô avisá ancê que comida tá na mesa!
Os três foram até a bica do lado de fora, tomaram o sabão caseiro de quadro e lavaram as mãos.
- Os senhores vão desculpar a falta da minha Totó, que está acamada a mando do Dr. Moreira.
Ela só poderá levantar depois que passarem as tonteiras que vem sofrendo.
Enxugando as mãos numa toalha trazida por uma escrava, o inglês disse:
- Eu fica triste doença dona Totó; minha mulher manda eu trazer presente para ela e falar, ela não olhar valor presente.
- Não precisava da lembrança, Oh gente!
- Magdalena falar que: Não puder estar aqui, manda abraço e lembrança dela...
Recebendo o embrulho sô Raymundo agradeceu em nome da esposa acamada.
- Se eu sabia doença dela, não vir aqui amolar senhores...
- Não se amofinem a Anastácia faz às vezes da minha patroa, é ela que dirige a cozinha da fazenda.
Ao término da refeição, saíram para o varandão, hábito de todos os fazendeiros para fazerem o quimo.
Bancos largos encostados a parede, convidavam para relaxar o corpo até que a digestão se completasse.
O café servido numa bandeja de prata veio lá de dentro; o bule fumegava irradiando o calor do café fervido na hora.
Esta, é a Anastácia de quem falei, cria da fazenda desde os tempos de meus pais.
O inglês e o filho sentindo a importância que davam a aquela negra cumprimentaram-na com um leve inclinar da cabeça.
- Sus Cristo, moços!
- Bom dia dona Anastácia, respondeu o filho do inglês.
Edward Hosken ficou olhando para a negra e se lembrou de Genoveva; como pareciam!
Ainda observando a sósia da sua antiga escrava, retirou a bolsa a tiracolo e sacou o cachimbo para fumar.
Lembrando que estava em casa alheia, ficou meio sem jeito se fumava ou não.
- Senhor Raymundo fuma?
- Sim, gosto de pitar; fumo de rolo envolto em palha de milho.
- Muita trabalho fazer, senhor Raymundo!
- Na hora que preciso, mando Tibúrcio separar as melhores palhas no paiol e raspá-las até ficarem transparentes, ele corta e põe naquela caixinha de tampa que o senhor está vendo em cima do armário.
Na outra caixa, abastecida por mim, está o fumo cortado e esfarinhado para receber a palha que eu enrolo com minhas próprias mãos.
A tardinha enquanto espreito a tarde se despedir  e as estrelas acordarem, fico pitando o meu fumo especial.
Totó gosta de assentar comigo na varanda; como ela não  pita, nem enrola cigarro, fica alisando a gata de sua estimação.
Maior caçadora de ratos da serra do Pinho...
- O senhor aceita pitar um dos meus cigarros?
- Muita gosto e querer para ver que melhor, se cachimbo ou pito.
Bem mais rápido do que o ascender do cachimbo, a palha pegou fogo com o triscar da binga.
O inglês chupava a fumaça pelo canudo da palha.
Calados e soltando baforadas, a varanda encheu do cheiro ativo do fumo de rolo.
O filho Carlos Arthur olhava os dois velhos degustando os cigarros e teve a vontade de também experimentar.
Nenhum filho desrespeitava o pai ou pessoa mais velha, fumando em suas presenças.    
Deleitado com o cigarro, o visitante comentou:
- Lugar ótima, nenhuma lugar melhor que varranda!
- Eu também gosto de fumar aqui, sô Eduardo!
Lá fora o sol chapava verticalmente sobre o telhado, sem deixar rabos de sombra.
- Vamos esperar os raios de o sol declinarem, pois até as cigarras estão excitadas  com o  calor.
 O inglês não sabia o que queria dizer declinarem, mas concordou com o fazendeiro que ia guiá-los até o terreno dos Barbosas.
O canto estridente dos insetos chegava a incomodar os ouvidos e o estrangeiro intrigado, perguntou por que faziam tanto barulho:
- É a Estação do acasalamento senhor Eduardo!
- De que?
- De ajuntarem para reprodução...
- Bicho  muita  pequena,  não precisar gritar fazer amor!
O fazendeiro riu e a conclusão galhofeira do inglês fez surgir o comentário xistoso:
- Imaginar homens,  gritar assim como cigarra,  fazer amor...
  Das valas das esterqueiras recendia o odor curtido do estrume.
- Se eu moço, voltar  cavoucar a terra; não minerar, mas plantar e criar vaca, eu querer  sentir cheiro bosta vaca, resto vida minha...
O inglês tinha razão, a mineração é estéril, ao contrário da pecuária e da agricultura que revive todos os anos.
Pensar, sô Viegas!
Desde pequeno, eu minerar na Inglaterra...
Trabalhar, trabalhar e nada ajuntar para depois velho...
O senhor muita feliz, haver que deixar seus filhas...
É senhor Viegas, conversar bom, mas dar sono se não ir embora...
O sol não mais forte e precisar ver terra,  senhor dizer muito boa...
- Então, vamos!
O fazendeiro ficou de pé e caminhou para o seu instrumento de comunicação entre ele e os agregados mais à distância.
Bateu três pancadas ligeiras na sineta e depois, tornou a repeti-las.
- Tô, aqui Nhô!
Traga os animais para nós Tibúrcio e da uma apertada nos arreios.
- Sinhô sim, Nhô!
Ajustando as esporas, pegaram os chapéus e os chicotes e partiram para a caminhada que teriam que empreender sob o sol causticante.
Na arrancada do galope, os animais estrebucharam e relincharam a um só tempo.
Era melhor para eles galopando do que amarrados sofrendo picadas das moscas que saiam das esterqueiras.
Purgatório o cão que recebera de mau humor as visitas,  cruzava os pés dos animais como brindando-os pelo que vieram fazer de bom; andava, parava levantando as patas e seguia em frente latindo como se indicasse o  caminho a percorrerem.
Correndo em frente, de vez em quando parava para farejar os troncos das árvores a beira do caminho.
Marcando a posse do terreno como se seu fosse, urinava nas raízes das árvores deixando a marca característica dos caninos, para que os outros soubessem que ali  havia um  dono.
Percebendo rastros de caça, saia latindo mata adentro em busca do bicho que ele sabia o que era.
Afastado dos animais de sela, latia em sinal de espera, acuando o bicho amarrado sob seus olhos atentos.
Não vendo e não ouvindo o sinal do dono, largava a presa e voltava ganindo como se tivesse perdido o mundo.
Eduardo notou que o cão era acostumado a caçadas e comentou:
- Bom cheirador e olhar certo para bicho!
- Bom farejador é como se diz em português.
 Ele está acostumado a fazer caçadas comigo e com outros caçadores, enfrentando lobos e onças nestas serras.
- Então, bicho bravo anda terras suas senhor Raymundo?
Os bichos andam atropelando cavaleiros que passam por estas matas, principalmente coelhos, pacas, tatus e tamanduás.
Região cheia de matas juntando as serras do Caraça, Gongo Soco, Piedade, Tamanduá e outras.
Na marcha picada, o tropel dos cavalos era ouvido bem a distância, apesar de encoberto pela mata luxuriante levavam os caminheiros sob a frondosa sombra.
- Eu gosto daqui, exatamente pelo verde selvagem que esconde tanta beleza, disse o filho do inglês.
Quanto mais matas senhor Viegas, maior valor das terras, resguardando as cacimbas de nascentes que brotam agradecidas no seu sossego.
- É, mas as sezões também gostam das águas paradas!
- Mas nestes altos as águas não ficam estagnadas.
Descendo os morros do contraforte da serra do Pinho, eles chegaram ao córrego na baixada dos Barbosas.
Os animais refrearam o galope e pararam para beberem a água cristalina que se espraiava sobre o cascalho da baixada.
O cão acompanhava os cavalos fazendo mais barulho do que eles bebendo a água.
- Vamos amarrar os cavalos por aqui mesmo e subiremos a inclinação  morro acima com nossos próprios pés.
Então senhor Raymundo, do espigão prá baixo, até a ponte dos Perdões é uma gleba só?
Sim, tudo isto pertence ou pertencia aos terrenos da Cachoeira de Santo Antônio, que estão sendo inventariados.
Esta parte até a ponte dá uns 40 alqueires.
Acompanhando a margem do córrego, chegaram com muito custo, as nascidas.
- Pouco caimento, sô Viegas!
Parece-me baixa para a serventia...
- Já me disseram que há outra cacimba a uns 20 metros de altura acima do córrego; talvez esta dê para alimentar a propriedade que se fizer por aqui.
- Se há realmente esta nascida, não carece o trabalho de irmos até lá, disse o filho do inglês; está muito quente para os senhores embrenharem-se pelo mato...
- O que vejo em quantidade são as essências nativas, que serão necessárias para a construção que se fizer por aqui.
- Isto é muito importante, pois estará quase a mão para puxá-las.
Ao lado da estrada, uma mata fechada cobria quase todo o terreno e as águas que nasciam sob ela, banhavam os talvegues sinuosos.
- Que tal senhor Hosken?
Olha a quantidade de madeira de lei:
Jequitibás, Jacarandás, Jatobás, Ipês, Vinháticos e Cedros.
Grossas árvores cobriam todo o espaço onde a visão atingia.
Areia, cascalho e pedra também não faltavam...
O sol estava castigando as frontes e o suor corria sobre a face; o corpo molhado pedia água e foi o que fizeram os três cavaleiros, retirando as roupas e caindo dentro do córrego.
- Coisa melhor do Brasil!!!
- O que senhor Hosken?
- Tempo e águas, tomar banho!
O inglês lembrava da sua chegada em terras brasileiras há quarenta e tantos anos...
Na Inglaterra não se tomava tantos banhos...
A desconcentração como agiam os três companheiros, despertou no jovem Carlos Hosken, uma grande simpatia pelo lugar.
- Se o pai não comprar o terreno, senhor Viegas, compro eu ...
Imagine um lugar como este, a menos de 1 légua de Catas Altas!
Padre Manuel Mendes, já me falou que as terras da periferia de Catas Altas, são próprias para vinhateira e cultura de frutos.
- Padre,  Totó; sabe  rumar céu para quem morrer, de terra nada saber!
- Ora pai! Padre Mendes é um homem culto, já trabalhou em lavouras em Portugal e vai começar a ensinar os moços de Catas Altas sobre diversas culturas...
Ele anda a falar que não se pode mais pensar em ouro que acabou; agora é voltar os olhos para a terra e cultivar o que vamos comer...
- O padre tem razão senhor Hosken, até no Pary o ouro sumiu e todo mundo está deixando o arraial de São Francisco.
Desde 1.875, Catas Altas começara a dedicar-se mais às culturas, fonte de riqueza honesta como dizia  o padre e até economias o povo estava fazendo na Caixa Econômica de Ouro Preto.
Sinais de mudanças dos tempos incertos para momentos certos...
Totó queria fixar raízes para casar-se com a moça que desde menino dedicava simpatias.
Por isto, compraria o terreno do Barbosa para cultura e criação de gado, foi o que declarou ao companheiro de viagem, senhor Raymundo Viegas.
Dentro do riacho do Barbosa, aquela conversa despertara o desejo do rapaz em construir ali uma morada toda especial.
Ele mesmo com os ensinamentos do padre Mendes, construiria a fazenda e suas benfeitorias.
Além das plantações de roças, manteria pastagens para alimentar o gado que abasteceria a fazenda de leite.
O padre Mendes entrosando-se com a sociedade, começara a dar diversos cursos na paróquia.
Para os homens, noções de cultura moderna com introdução de arados, cereais próprios a natureza da terra, cultura da cana para fabricação do açúcar, cultura de mandioca para fabricação de farinha.
Aproveitamento dos pomares para fabricação de doces, licores e sucos.
Para as mulheres, cursos de culinária, costuras e bordados.
Com o pensamento nos ensinamentos do padre, Totó aproveitaria a experiência dele para aprender tudo que ele pudesse passar de teórico e prático ao jovem sem experiência.
Além da cultura religiosa e da visão moderna, o padre era pau para toda obra e se metia em tudo que pudesse dar ao povo, auxilio para melhores condições de vida.
Em pouco tempo, espalhou mudas e sementes selecionadas para cultura da cana, mandioca, milho, feijão, arroz, verduras e cepas de videiras.
Não contente com o que ensinava, mandava buscar oficiais carapinas e marceneiros para confeccionarem aparelhos e objetos para as novas atividades que introduzia em Catas Altas.
De Santa Bárbara veio o oficial tanoeiro, chamado Manoel, que acabou sendo conhecido pela população como: Manoel Tanoeiro.
O sobrenome perdeu-se na memória do povo, mas a função gravou-se ao seu nome.
Nas diversas atividades que o padre encaminhava o povo, uma em especial era do seu interesse, pois a igreja necessitava de bons vinhos, cuja importação ficava cara às irmandades mantenedoras das igrejas.
Para fabricação de vinho em larga escala, ele preparou e  redigiu compêndios sobre Cultura de Vinhos, para que pudesse repassar a seus alunos, uma vasta matéria.
Por ser longa a matéria, eis algumas partes do que deixou registrado e ensinou aos seus alunos, especialmente a Carlos Arthur Hosken.

            


CULTURA DA VINHA E O VINHO


“Vi num lae tificat cor hominis, disse o Espírito de Deus, nos salmos e pelo sábio eclesiástico”.
E qual será o homem, descendente de Noé, e por conseguinte, habitante  deste planeta terráqueo, que não deseje uma pinga, não aprecie um copinho do róseo sumo da uva, e molhe a palavra e se anime a novos cometimentos?
Se já em remotos tempos, uns mestres da eloquência, não prescindia de render culto a esta substância, companheira do homem na paz e na guerra!
Descendentes de portugueses, em sua maior parte, os brasileiros gostam do vinho em suas mesas, maxime quando deve haver gáudio em casamento e batizado...
.  Aonde, porém, encontrar vinho?  Perguntava eu?
. Oh! Reverendo, em todos os negócios por aí, há  com fartura:
Deseja tinto, branco, ou porto?
Amigo, sejamos razoáveis; não vamos com tanta sede ao pote.
. Tenho visto ou ouvido falar de um folheto:
- “Noções úteis ao fabricante de vinho”. Impresso no Rio de Janeiro, e escrito por um tal que mora em Minas!
 Eis o teor do que  escreveu o dito cujo sobre a matéria:

                 NOÇÕES  ÚTEIS  AO  FABRICANTE  DE  VINHO  

                        1. - A História do Vinho:

O vinho é conhecido desde os tempos mais remotos.
Os hieróglifos dos antigos egípcios, e babilônios fazem referências ao vinho.
Os chineses já preparavam-no 2.000 anos antes de Cristo.
Os Feníncios ao chegarem na Espanha, onde fundaram Cadiz, plantaram uvas e produziram o vinho.
Os romanos levaram a cultura da uva e a produção do vinho por todas as partes do seu extenso império.
Baco dos romanos, ou Dionísio dos gregos, é o deus do vinho.
Os romanos tinham vários tipos de vinhos, que denominaram:  “Coecumum,  lerno, mamertino, etc. “
Eles adicionavam ao vinho, o mel ou resina, para segundo julgavam, conseguir maior conservação.
A Bíblia fala do vinho em diversos capítulos; O Gênesis relata o episódio de Noé que, depois do dilúvio, ao sair da arca, começou a cultivar a terra; plantou a vinha e bebeu o vinho.
Nas leis relativas aos sacrifícios, há determinação da medida de vinho para as libações da oferta.
O livro do Eclesiástico diz que:
“ Assim como brilha mais um sinete de esmeralda encastoado  em ouro, assim a harmonia da música melhor se logra entre  um alegre e moderado vinho.
Jesus em uma de suas parábolas, compara o reino dos Céus a um pai de família, que ao romper do dia, saí para contratar operários para sua vinha.

São Lucas em seu Evangelho, narra outra parábola de Jesus:
“Ninguém coloca vinho novo em odres velhos, doutro modo, o vinho novo fará rebentar os odres e derramar-se-á o velho e perder-se-ão os odres.
Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos e assim ambas as coisas se conservam.
É ninguém depois de ter bebido vinho velho, quer imediatamente beber um novo, porque se diz:
"O velho é melhor”.

Transformando a água em vinho, nas bodas de Canã, Jesus realizou o seu primeiro milagre e bebendo do fruto da videira, fez a última ceia com seus apóstolos.
Muitos tipos de vinho, que hoje são tomados, conservam as características básicas, formuladas na antigüidade por povos que se fixaram em determinados pontos da terra.
Na região de Borgonha, por exemplo, que foi celeiro do império romano, não só o tipo do vinho ficou, mas algo da tecnologia de sua fabricação, como a introdução dos tonéis de madeira.
  

                          2. - Como é feito o Vinho:-

A safra ou colheita da uva, também chamada vindima, ocorre a cada ano e o clima em determinados anos, contribui para a qualidade superior da uva, que pode levar a um vinho melhor.
Conhecedores de vinho utilizam o ano da safra como um dos fatores de referência para avaliar a sua qualidade; o conjunto de operações necessárias para a fabricação do vinho é chamada de “Vinificação”.
Colhidas as uvas, elas são colocadas numa laga, prensa onde são esmagadas.
Em alguns lugares o esmagamento é feito com os pés, o que eles chamam   de “Pisa”
Também existe o processo misto, em parte feito pelo esmagador mecânico e completado pelos pés dos vinicultores ou seus empregados.
Após o esmagamento, geralmente coloca-se algum produto químico específico, o purificador, que deixa viver a levedura e destrói, paralisando a ação prejudicial das bactérias
Depois, o suco ( mosto ) é bombeado para os tanques, onde vem a ocorrer a fermentação, que transforma o suco em vinho.
A temperatura do mosto eleva-se progressivamente e o açúcar é transformado em álcool e anidrido carbônico.
A fermentação chamada de alcoólica deve realizar-se entre 25 a 27 graus centígrados de temperatura, para que seja exclusivamente alcoolica e não apresente fermentações secundárias que venham a prejudicar o vinho.
A fermentação completa redundará num vinho seco, e se interrompida, dará o vinho doce.
Os vinhos espumantes originam-se de uma segunda fermentação que vem a provocar borbulhas, daí o aspecto físico do líquido. cheio de bolhas...
Para produzir o vinho tinto, coloca-se as cascas de uvas com o mosto nos tanque de fermentação.
Para produzir o vinho “Rosé” as cascas devem permanecer por menos tempo.
Para fabricação do vinho branco, as cascas são retiradas do mosto.
Ao contrário do que muita gente pensa, o vinho branco além da uva branca, leva também as uvas tintas, desde que não sejam as castas chamadas tintureiras.
No caso de uso de uvas tintas, estas devem ser esmagadas de modo que o mosto não esteja em contato com as películas, parte da baga que contém a matéria corante.
Depois da fermentação, o vinho é colocado em tonéis para envelhecer e formar o seu sabor, o buquê na linguagem dos provadores.
Geralmente estes tonéis são de grande porte, para conter toda ou parte da safra anual, que permanecerá fechado e imóvel, maturando para o que se chama de envelhecimento.
Dependendo do tipo do vinho, o seu envelhecimento pode levar anos. 
Nesta fase, deve ser depurado sucessivamente através de troca de tonéis para livrar-se de partículas em suspensão, que vão sedimentando-se no fundo dos tonéis.
Para engarrafamento em vasilhame completamente limpo depois de maturado, deve ser filtrado,  arrolhado, lacrado e rotulado.
O vinho é muito sensível  a cultura da videira e do processo de seu fabrico.
Ele deve sua qualidade, também a cepa de sua origem.
A cepagem dá a base para o produto final.
Toda videira tem características próprias de família e espécies, a hereditariedade é fundamental para o bom vinho.
Associam-se a videira as condições de solo e do clima, principalmente o tempo atmosférico na ocasião das vídimas.
A raça, que é conhecida por (classe) do vinho, é estreitamente ligada a esses fatores, que começa no campo e vão até aos cuidados de sua preservação nas garrafas, seja nas adegas ou nas prateleiras, tarefa dos usuários e amigos, apreciadores de uma nobre bebida.
                        

                         3. - Como Guardar o Vinho:-

Muitos apreciadores de vinho tem ou desejam ter  adega em sua casa ou nas vendas.
As adegas caseiras sempre preservaram a maneira antiga de confeccioná-las; levando em conta a experiência dos fabricantes de vinhos que vem de longos séculos.
O vinho é inimigo da luz e gosta de temperatura ambiente, havendo alguns que podem ser gelados, quando serão servidos de imediato, colocando o vasilhame em salmoras.
A adega deve ser localizada conforme os caprichos do vinho.
Ao lado da importância da matéria prima, procedência, fabricação e higiene, o vinho requer conservação, como todo o ser vivo, ele sofre problemas fisico-químicos que precisam cuidados especiais para não se alterar.
Ele tem necessidade de descanso, última fase do longo processo de sua maturação, até seu engarrafamento.
A posição ideal da garrafa guardada é a horizontal ou inclinada; essa posição possibilita o umidificação da rolha, tornando-a fácil de se tirar ao abrir a garrafa.
A posição horizontal impede trocas com o meio, perda do teor alcoólico e de outros elementos que formam o seu sabor; do mesmo modo, a impermeabilização do oxigênio, afasta o desenvolvimento de microrganismos que alterarão o produto, fazendo surgir uma fermentação indesejável, que avinagra o vinho.
Por este motivo os produtores lacram o gargalo protegendo a rolha.
A temperatura é outro fator importante; as garrafas devem ser colocadas em locais frescos, Se o sol tem influência negativa ao vinho, o excesso de frio também deve ser evitado.
Da mesma forma, as oscilações rápidas de temperatura prejudicam a bebida.
Nunca colocar a adega próxima de fogões ou lugares ventilados.
O vinho tolera alterações de temperatura, desde que sejam lentas e gradativas.
As vibrações também são prejudiciais ao vinho; diz-se que o vinho é amigo do silêncio.
Guardado, ele quer sossego.
O rótulo deve estar sempre para cima, para que ao ser visto, se saiba qual é sua qualificação, sem agitar o conteúdo virando a garrafa.
A adega é um recolhimento quase místico para o vinho.

 
                         4. -  Degustação: -

Degustar um vinho é perceber o seu sabor.
O técnico, um provador profissional, prova-o para definir sua classificação ou verificar se está perfeito.
O conhecedor de vinho, pela degustação, conhece-o pelos cinco sentidos; onde está incluído até a audição, pois alguns peritos definem um tipo classe “A” pelo barulho específico ao derramar da garrafa.
A avaliação pela visão se faz através da cor, tonalidade, consistência, limpidez, fluidez e presença ou ausência de efervescência e de outros elementos que prejudicam-no.
O aroma ou buquê é percebido pelo nariz e pela boca, o chamado aroma da boca, que transmite as sensações do olfato.
O gosto é percebido pela boca, principalmente pela língua, onde residem as sensações de doce, amargo, e de acidez.
À boca, também se junta a língua e mucosa para perceber as sensações tácteis de aspereza, delicadeza, adstringência e caloria.
Para essas percepções, salgadas, e aromas, como o gosto em geral, a boca deve estar completamente livre de substâncias alimentares, até dos resíduos do cigarro.


                         5. - Composição do Vinho:-

Considerando-se as calorias, o vinho tinto deve dosar 55 calorias por copo.
O branco, 35 calorias.
O Porto,   75 calorias.
O champanhe, 35 calorias por copo.
A água tem maior porcentagem em sua composição e vai de 80% a 85%.
Os vinhos possuem teor alcoólico variáveis entre l2 e l7% do seu volume e assim são as mais leves entre as bebidas alcoólicas.
O álcool possibilita a conservação do vinho e auxilia o desprendimento do seu aroma.
Um vinho de 10 graus G.L. tem o correspondente em álcool  puro; ele deve estar diluído no vinho em harmonia com outros componentes, sem dominá-lo.
O açúcar, que não foi transformado em álcool no processo de fermentação, permanece no vinho.
Nos licores, a presença do açúcar é mais acentuada.
Os pigmentos ou matéria corantes, provenientes da uva subsistem no vinho e sofrem alterações no decorrer da sua idade.
O tanino encontrado na sua composição , proveniente das cascas e sementes da uva, é um elemento anti-séptico que influi na cor e em sua composição.
O glicerol ou glicerina, confere a untuosidade ao produto, dando a maciez ao ser bebido.
Os ácidos vêm dar ao vinho o seu equilíbrio e o excesso de acidez, torna o vinho imprestável.
Sais minerais, como cálcio, ferro, magnésio, potássio. sódio, etc. além de matérias albuminóides e componentes de vitaminas, úteis ao organismo humano, encontram-se em sua composição e por isso se diz que o vinho é alimento.

                           6. - Tipos de Vinhos:-

Enologia, no dizer dos dicionários, é o conjunto de tudo quanto se diz a respeito da arte de fabricar e conservar o vinho.
Enologia é um tratado dedicado ao vinho; “ENO” é o prefixo da palavra que quer dizer em grego, “OINOS” ou vinho.
 “ENÓLOGO” é o técnico em vinho.
 “ENÓFILO” é o amigo do vinho.
Como se pode ver, o vinho através da história arregimentou um vocabulário amplo, próprio e completo, sua denominação se deve a todos os elementos que o constituem.
ROBUSTO: É o vinho forte e bem caracterizado em sua identidade.
MACIO OU REDONDO: É o vinho substancioso e suave.
BRUT : É o seco, geralmente dito para o champanhe.

O vocabulário é extenso e seus termos vão sendo aprendidos  pelo enófilo.
O vinho tem sua roupagem, que se define em sua cor e limpidez, dentro das variações de tonalidade, intensidade e consistência.
Eles têm seus nomes da região de origem onde são produzidos, dos seus fabricantes, ou muitas vezes simplesmente escolhidos em homenagem a um local, um chateou, ao proprietário da Viti ou vinicultura ou a alguma pessoa, como no caso do champanhe Dom Pérignon, o abade que manipulou sua fórmula.
A lista de nomes é extensa, pois são milhares em todo o mundo.
Quanto a qualidade ele pode ser:
Tinto, rosado ou branco; considerando-se as ocasiões em que deva ser tomado.
Podem ser classificados em vinhos aperitivos, de mesa, de sobremesa e espumantes.
Em relação ao seu teor, que ficou remanescente da fermentação que lhe dá o sabor, o vinho classifica-se em seco, meio-seco e doce.
O tipo seco ocorre quando todo o açúcar foi transformado em álcool; Meio-seco, quando ainda contém parcela de açúcar, em torno de 5%.
O tipo doce, quando tem o teor maior que 10% de açúcar.
O Conhaque, nome que vem de Cognac, região da França, entra na família dos vinhos; é um destilado de vinho, de graduação alcoólica de 38 graus, G.L.
O Vermute é um aperitivo preparado a partir também do vinho.


                         7. - O Vinho nas Refeições:-

O vinho tem determinadas regras para o seu uso nas refeições.
Elas não foram estabelecidas ao acaso e sim porque cada tipo, combina com determinado prato, de modo que realce o sabor de ambos, sem um sobrepor ao sabor do outro.
Os vinhos aperitivos são servidos para estimular o apetite ou simplesmente para serem tomados antes das refeições.
Variam do seco ao doce.
Em se tratando de serem servidos antes das refeições, a maioria prefere os secos.
Existe um tipo novo, o gaseificado, que pode ser tomado sozinho, ou servir como aperitivo, acompanhado de petiscos.
Vinhos tintos de mesa são os mais fortes e destinam-se a acompanhar o prato principal de uma refeição, desde que seja adequado ao prato, como assados e massas.
Os tintos são servidos a temperatura ambiente.
Os nomes genéricos mais conhecidos são o Borgonha, Clarete e o Chianti, que vem numa embalagem especial de palha trançada, envolvendo a garrafa bojuda de gargalo comprido.

Vinhos rosados ou rosés, são espécies de vinhos neutros, que servem para todas as ocasiões.
Podem acompanhar a qualquer tipo de comida e são servidos gelados.
Os vinhos brancos, acompanham pratos de paladar mais delicado, como peixe ou frango.
Apresentam variações de cor, que vai do amarelo pálido a tons mais fortes e de paladar doce ao bem seco.
São servidos gelados; entre eles são mais populares os Hablis, Reno e Sauterne.
Entre as variedades, estão incluídos: O Hardonnay, Semilolon e o Resling.
Inclui-se pelo seu sabor especial os novos vinhos fabricados em paises  não tradicionais em vinicultura, como os da Alemanha.
Os vinhos servidos como sobremesa podem também ser  servidos como aperitivo.
Os mais apreciados e conhecidos são:
O Madeira, o Porto e o Jerez.
O Madeira com duas variações: Seco e o doce, é produzido na ilha do mesmo nome.
O do Porto, tinto ou branco, é produzido na região do vale d’Ouro, bem como em outros lugares próximos; leva o nome de Porto, porque nessa cidade portuguesa tem seu principal centro de comercialização.
O Jerez, citado por Shakespeare, é originário da Andaluzia, Espanha, cujas vinhas antiquüíssimas vêm dos tempos dos fenícios.
Também com as variações de nome Xerez ou Sherry, são produzidos em outros países.
Vinhos espumantes são aqueles que têm espumas, borbulham porque contém dióxido de carbono.
Podem ser tomados com qualquer alimento, mas comumente são usados em ocasiões festivas; o principal deles é o famoso champanhe.
As regras para os vinhos nas refeições completam-se:

Os Leves: Devem ser servidos antes dos mais pesados e os secos, antes dos vinhos doces.
Os vinhos servidos gelados devem conservar sua temperatura no ambiente que é servido, caso dos países europeus.
O vinho exige um copo especial para cada tipo.
O design do copo adequado para cada tipo, vem através dos tempos e  foi uma longa procura, como encontrar a cada tipo de vinho um recipiente adequado.
O copo deve ser de cristal ou vidro transparente, sem decorações; todo copo para o vinho, deve ter o pé, para evitar que o calor da mão, altere sua temperatura.
Os copos para os vinhos tintos devem ter a tulipa mais fechada e para os brancos, mais aberta.
Já os vinhos aperitivos e licorosos, que são tomados em menor quantidade, serão servidos em cálices.
O champanhe tem taça especial, conhecida tradicionalmente como taça de champanhe.
O conhaque deverá ser servido em copo taça-balão com a boca mais estreita que o bojo.


                           8. - O Vinho no Brasil:-

Martim Afonso de Souza em 1.532, introduziu as primeiras videiras no Brasil, na capitania de São Vicente.
Brás Cubas, fundador de Santos, foi nosso primeiro vinicultor; Duarte Coelho iniciou a plantação da videira em Itamaracá na Bahia; depois incentivado pelos holandeses, na região nordeste de suas ocupações.
Em Minas Gerais, no apogeu dos diamantes, na região de Diamantina.
Segundos dados da história, a videira foi introduzida no Rio Grande do Sul, em 1.626 pelo padre Roque Gonzales, nas Missões Jesuíticas.
A cidade do Rio Pardo é o berço da vinicultura de alta produção gaúcha de vinhos.
Em 1.8l3, o açoreano Manoel de Macedo Brum, iniciou a fabricação de vinho; a iniciativa foi registrada em documentos oficiais.
Ao se criar a Junta Comercial no Rio de Janeiro. ela expediu num dos seus primeiros documentos a pedido de Brum, a dispensa do pagamento de dízimos, devido a grande utilidade que se seguirá da cultura das vinhas e do fabrico de vinho, criando-se um novo ramo de artigo de comércio e de exportação.

Portugueses continuaram a plantar nas imediações de Porto Alegre e na ilha dos Marinheiros em frente da cidade de Rio Grande, estendendo a outros municípios, como Pelotas e São Lourenço, onde também plantavam os colonos franceses.
Os alemães vieram a se juntar, em outros pontos, aos imigrantes produtores da uva no Estado.
Imigrantes italianos tinham produção caseira de vinho e foram principalmente a eles que intensificou a produção de vinho a partir do ano de 1.870.
Na região da serra do Caraça, a primeira notícia de uma videira plantada, se deu exatamente no colégio daquela serra.
As cepas vieram do Hospício de Sabará a instâncias do padre Manuel Mendes Pereira, e colhidas pelo padre Cândido Alvarenga, no ano de 1.864.

Em 1.868, padre Manuel Mendes dá notícia de um pé de videira americana plantada pelo irmão de Maria Magdalena Mendes Campello Hosken, a esposa do inglês Edward.
Sobre ela, dava notícia:
- Cepa trazida de Rio Preto, por Fernando Mendes Campello como fruto de quintais e  para bebidas caseiras.
Estas cepas foram as primeiras mudas do vinhedo do Caraça e mãe de todas as demais plantadas em Catas Altas do Mato Dentro, que em 1.887, produziria 78 respeitáveis pipas de vinho.
Nota-se pelas informações do padre Mendes que, a produção de vinhos no Brasil, tanto em Minas como no Rio Grande do Sul, são de uma mesma época.
Cidades como: Bento Gonçalves,  Garibaldi, Farroupilha, Flores da Cunha e Caxias do Sul, foram as pioneiras na produção de vinho no sul, Catas Altas do Mato Dentro, no centro do Brasil.
Logo ao início da expansão vinícola, foi difícil aos produtores, concorrerem com o produto europeu e especialmente aos vinhos de Portugal.
Era mais fácil comprar o produto estrangeiro, colocado  pelo transporte marítimo, que o produto brasileiro transportado por lombo de burros.
As arquidioceses brasileiras procuravam sensibilizar a disseminação da vinicultura; necessária a produção de vinhos para os atos litúrgicos.
Minas, o estado de maior população, com um clero religioso nas mesmas proporções necessitava de uma cultura vinhateira que pudesse dar sustento as necessidades comerciais da época.
Coube a visão do padre Mendes, a introdução da cultura da vinha e conseqüente iniciação da produção de vinhos em Catas Altas e é a ele que se deve a iniciação de Carlos Arthur Hosken no ramo da vinicultura.


Não bastava ao sacerdote o grito contra o marasmo que a mineração do ouro deixara a colonial Catas Altas; era necessário que um homem voltado as coisas de Deus, regaçasse as mangas como exemplo iluminado pela Providência Divina, pegasse na  foice, machado e enxada e mostrasse como lidar com o campo...
Na falta de compêndios para ministrar seus ensinamentos, escreveu ele com suas próprias mãos os manuais que ensinaria  ao povo como plantar.
Ministrando durante os 10 primeiros anos, seus ensinamento e catecismo, implacavelmente combatia os pecados capitais, entre eles a preguiça que assolava a terra para a qual fora designado como coadjutor do padre Francisco Xavier de França.
Como bom pastor,  cuidava do seu rebanho levando-o  ao seu aprisco.
Como homem, conquistara simpatias a ponto de ser chamado por toda a população de: “PADRINHO VIGÁRIO”.
Foi graças a esse padre que, Carlos Arthur Hosken encontrou o seu caminho profissional e por que não dizer, também a sua fé, pois o moço filho do inglês anglicano Edward Hosken, vacilava entre a religião do pai e da mãe brasileira.
Convivendo com o padre Mendes, assistindo seus ensinamentos nas aulas práticas que ele dava nos viveiros da casa Paroquial e nos quintais do Dr. Manoel Moreira de Figueiredo de Vasconcelos e do outro não menos ilustre cidadão desta terra, o senhor capitão Domingos Vieira, Totó recebia as noções práticas que complementariam os estudos elaborados pelo padre.
Assumindo a condição de proprietário das terras da margem direita do rio dos Coqueiros, (Terra dos Barbosas) uns dos primeiros convidados levados por Carlos Arthur, a conhecê-las foi o seu mestre de Vinicultura o padre Mendes.
Como conselheiro do jovem, o mestre ajudava a ordenar o projeto do futuro retiro que ele batizara com o nome de: “Retiro da Boa Esperança”.
Farto em madeiras de lei, a mata foi derrubada, a madeira carregada, lavrada e depois serrada; estavam sendo dados os primeiros passos para construção do retiro...

Gente arrebanhada nas proximidades de seu terreno, começaram a levantar inicialmente as cobertas que abrigariam: O engenho,  e coberta de leite.
Chico Crioulo, ex-escravo alforriado de dona Antônia Marcolina Ferreira, a dona Dindinha Totó, com a Lei dos Sexagenários, (Saraiva-Cotegipe), foi libertado e liberado para trabalhar com o filho do inglês, Edward Hosken.
Com ele veio, mulher e filhos, fixando-se na Boa Esperança.
Seu filho Olímpio, tornara-se mão direita de Totó, nas construções que estavam sendo levantadas; inteligente e trabalhador, aprendeu com seu patrão o ofício de carpintaria e pedreiro.
Outro moço das imediações, José de Souza  fazia os trabalhos das plantações juntamente com seu irmão Constantino.
Estava montada a equipe que por muitos anos operaria  na vinha, plantações e cuidados com os rebanhos.
A coberta, primeira construída no terreno abrigou depois de dividida:
Os cômodos de arreios, carroças, quarto dos leiteiros e demais agregados homens.
Depois de levantada a casa da fazenda, a coberta serviria também para local de ordenha.
Foram estes os primeiros favos de uma grande colméia em que se transformaria posteriormente o Retido da Boa Esperança. 
Três currais amplos ligados entre si por porteiras e a grande coberta foram a obra erguida como segunda etapa.
A terceira etapa, Totó mais habilitado pela experiência e com mestres de obras contratados, levantou a casa, coberta de fornalha e forno.
As quartas etapas, já morando na propriedade, foram construídas: A casa da fábrica de açúcar, geminada a grande adega e os cômodos de depósitos.
Na continuação da grande coberta da adega, o paiol com suas máquinas beneficiadoras.
Na parte mais baixa, periferia da casa, afastada l00 metros, o moinho alimentado pelo canal de águas que descia do pasto de cima.
A casa construída ao molde do colonial, com seus telhados de 4 águas, tinha do lado da frente na fachada e no lado dos fundos, varandas acolhedoras.
Com bancos largos encostados nas paredes, era o ponto de espia para vigiar quase todas as atividades que desenrolavam na propriedade.
O sol entrando de viés, insolava as varandas e os dormitórios.
No centro, as salas de visita e refeitório, comunicando-se com os cômodos internos e as varandas.
Em nível a 40 cm. inferior a parte social, os quartos de casal, e  das crianças que viriam,  dando visão por largas janelas ao grande pomar e jardim da Nhanhá.
Nos extremos das varandas externas, os quartos de visitas, resguardando a intimidade do casal e dando mais liberdade a seus hospedes.
A despensa com janela para o pátio interno do fundo da casa ficava em frente à longa coberta da fábrica de Vinho (Adega).
A construção seguia o projeto elaborado por Totó.
Nos primeiros meses de 1.883, em vários domingos Nhanhá veio a passeio com seus irmãos, para ver como andava as obras da futura morada.
Alegres as moças aproveitavam para nadar no córrego dos Coqueiros, enquanto os irmãos homens saiam a caçar na Serra do Pinho.
O parreiral que no futuro abasteceria a vinicultura estava sendo iniciado, e Nhanhá quando vinha visitar as obras do retiro, trazia mudas de frutas e flores para que Zé de Souza plantasse.
Todos que visitavam o retiro implicavam com uma área enorme arada junto da casa em construção e ninguém via a roça vingar; era o local da vinha que começara a ser plantada com as cepas que vinham de Catas Altas.


 

Um comentário:

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