O senhor
Raymundo Viegas que morava na Serra do Pinho, estava naquele dia a tropa no
curral do rancho da venda do Martinho Lourenço & Filho.
O fazendeiro negociara parte da produção do
feijão preto, com o comerciante João Martins Ayres.
Com o comércio bem
estabelecido, pois Catas Altas ficava
nos caminhos que levavam o povo da região Leste e
Norte, à capital Ouro Preto.
O número de
tropas que passavam por seu estabelecimento, era considerável e ali, os
tropeiros faziam negócios, antes mesmo de levá-las para Ouro Preto a capital das Minas
Gerais.
O fazendeiro
Viegas acabara de fechar a venda de uma partida de feijão, quando deu de cara
com uma pessoa rara de se encontrar nas ruas do arraial; o inglês Edward
Hosken.
A contra gosto
do inglês, ele passara a ser chamado de “Velho Eduardo” para diferençar do
filho com o mesmo nome.
- Bom dia
senhor Viegas!
O que trás homem
aqui Catas Altas?
- Negócios,
senhor Eduardo, negócios que se depositam no paiol, depois não há como continuar
guardando-os...
- Estou
acabando de fechar a venda de uma partida de feijão, para depois vender o milho
que me sobra.
Bom, muito bom
encontrar senhor Raymundo; meu filho Totó quer casar e
querer comprar terras de plantar.
Saber eu Serra
Pinho melhor terra região e senhor melhor homem poder falar pra eu se
verdade...
- Ora senhor
Eduardo, e o ouro?
- É, ouro por
mais cavucar, sumiu Catas Altas...
- Se não tem a flor da terra e nos rios, deve ter
por dentro da serra!
- Sim, sim,
mas quem furar serra senhor Raymundo?
- Uai! Vocês
ingleses não furaram a serra do Gongo!
- Furar até
dinheiro acabar...
Dinheiro acabar, não tem mais trabalho mina de ouro.
- Uai, sô Eduardo, então o jeito é mesmo ir pra
roça...
Coincidência
ou não, ofereceram-me as terras do Barbosa, que é parte da partilha do
inventário dos Monteiros de Oliveira.
- Uê! Os Campellos não são herdeiros?
- Não eu, meu
cunhada Chico é que herdeiro, minha mulher, família Mendes Campello, não Oliveira...
- Uê! Se o
Chico é cunhado da sua esposa e colocando a venda suas propriedades para mudar
para a Mata, porque não comprar da mão dele as terras do Barbosa?
Bom lembrar,
sô Raymundo, como não pensar nisto?
- Não saber
como agradecer, senhor!
- Não é
necessário, ó gentes! Não me custou nada para dá-las...
- Então vou
ver terras, meu filha está casamento perto e querer tentar plantar...
- Gosto de
gente que não tem medo de trabalho!
- Como
fala, senhor Raymundo?
- Ora! Seu
menino terá que começar do nada, pois lá só tem matas a desbravar.
- Então, nem casa morar?
- Próxima
existe a do Betancourt, gente descendente dos primeiros cavuqueiros de Catas
Altas, o resto é mata a derrubar.
Eu
vontade conhecer terras que senhor fala!
E por que não
vai lá?
- Não conhecer
terras...
- Por isto não,
eu levo o senhor para ver, pois fazem divisa com minha propriedade.
- Que dia senhor mostrar eu,
“paradise”?
- Um nome
bonito o senhor já tem para o sítio, PARADISE.
- Quem sabe,
meu filha não está preparar para entrar Paradise?
Não fácil,
comprar “paradise” disse rindo o inglês...
- Olha senhor
Hosken!
Qualquer dia
da semana exceto o domingo, estarei a sua disposição.
- Então Sexta-feira;
Certo senhor Raymundo?
Combinado e
aguardando meu futuro vizinho...
Na manhã da
Sexta-feira, levantando às 4,30 horas, Edward acordou o filho Carlos Arthur.
Gotinha e
Inglesa, as mulas de Totó e do pai haviam ficado presas no pastinho dos fundos
e Tomé o criado, foi arriá-las.
Totó que fora
ajudar o negro voltou com a calça molhada de sereno e teve que trocá-la para a
viagem.
Benedita
xingava, pois bastaria ao Tomé a incumbência de campear os animais no pasto,
sem que Totó molhasse sua calça.
Maria
Magdalena enviava à dona Antônia Marcolina
agrados, raros de se encontrar nas roças.
Com o presente
e matulagem dentro do alforje, pegaram as montarias e picaram os animais para o
lado da serra do Pinho.
O arraial
nesta época tornara mais preguiçoso, ao contrário dos tempos das catas, quando
os escravos e seus senhores acordavam às 4,00 da madrugada.
Dorminhoco e
tranqüilo só ouviam o tropel dos animais burlando o silêncio com o bater das
ferraduras.
Pelas
calçadas, animais caseiros cruzavam as ruas fugindo dos cavaleiros e os
morcegos davam adeus a noite, antes do arraiar do Sol.
Os alvores do
lado Leste surgiam aumentando o clarear a medida que caminhavam.
- Eu gosto de
viajar para o lado da nascente, disse Totó para o pai; é como se assistisse o
nascer da vida...
Aparentemente,
é o clarear primeiro!
- Não diferençar,
filho!
Se caminhar 100 milhas “East” ou l00
“West”, dia clareia mesmo “moment”, pois, terra muito grande, notar avançar
raios solares...
Cavalgando
lado a lado, chegaram a ponte dos Perdões sobre o rio dos Coqueiros.
- Aqui terra
dos Barbosas, sô Raymundo fala vender família
Chico Oliveira, aqui rio, começa propriedade; mas onde terminar gleba, eu não
saber...
- O senhor
está interessado nela?
- Sim, desejo
comprar para você tomar conta dela e não viajar para Mata como irmãos seus...
Antes você
querer partir como os outros, tentar eu que você ficar aqui, para alguém
enterrar eu em Catas Altas.. .
- Mas pai, os
manos partiram por não haver mais
serviço!
- Eu sabe,
Catas Altas não mais terra ouro e dos estrangeiros e quem querer continuar vida
nesta terra, ter que fincar pés e
mãos no chão...
Cavoucar não
achar ouro, mas plantar lavoura e capim para criação boi...
- Por que esta
mudança, pai?
- Porque ouro
acabar.
Agora, só cuidar
terra que nós muito machucar.
Fui tatu
furando buracos, aqui, lá e ali, hoje
quer ser formiga, juntar como elas, tudo
num buraco, para Inverno que vier pra eu...
Eu perder tudo
na vida!
Pátria,
filhos, amigos...
Eu não gosta
de padres, mas, que anda falar novo vigário,
sei quanto ele fala certo,
razão alertar o povo de Catas
Altas, contra minerar ouro.
Ouro aqui,
povo sabe que ter; mas tirar debaixo terra, custar muita caro!
Eu arrepender
ter gasto anos minha vida,
sacrificado inferno trabalho; luta sua mãe,
acompanhar marido doido pelas minas...
Chegada hora, assentar
definitivamente vida minha.
Com ajuda filhos,
faz casa sua mãe e vocês...
Nunca o pai
tinha se aberto, como naquela manhã.
Foi lendo a
Estranha História do Ouro, que ele modificou o seu modo de pensar, apesar de
tardiamente.
A página em
que havia lido a história, ele guardara dentro de seu travesseiro, para que,
até dormindo meditasse sobre ela:
A ESTRANHA HISTORIA DO OURO:
“O seu
nascimento é obscuro e humilhante, pois jaz sob os pés de todos.
Sem tinir, nem retinir, sem som grave ou agudo, quase mudo.
Acorda a si os homens, com tão poderosa eficácia, que, por mar e por
terra, todos viajam em sua busca.
Não há cansaço, fadiga ou entraves, que barre a esperança do sonhador.
Quanto mais achado, mais procurado e ambicionado.
A natureza ao constitui-lo, colocou-o
debaixo da terra, para que os homens o pisem.
E estes mesmos homens não se envergonham de colocá-lo sobre suas
cabeças.
“É ele o incentivo da cobiça, do desvario da razão; tirano da Justiça e
contágio da inocência”.
Era outro
homem que vencido pelos tropeços da vida, tentava soerguer dos escombros, os
alicerces de um castelo que ruíra.
- Então o
senhor está arrependido de tudo que fez na vida meu pai?
- De tudo, não
filho!
- Vocês, eu
fazer com amor e vontade...
Sua mãe sempre
lamentar, ausência seus irmãos, dizendo eu culpado partida deles...
Como velho
inglês, sem trabalho, estrangeiro; poder segurar filhos junto nós, na terra que
ele ser Godeme e ateu!
Godeme pode,
pois eu ser, mas dizer eu anti-Cristo, é afronta que pai seu não aceitar...
Pensar
bem! Leis Abolição Escravatura, acabar
esperanças minhas.
Sem escravos, sem
dinheiro, como viver?
Resta eu
esperança vocês, meus filhos!
Esta, razão que
fazer esta viagem.
Do pouco sobra
dinheiro, nós comprar terreno para fazer morada e meio vida para tomar conta sua mãe e Niníca.
Elas ficarão
casa nova que construir na rua.
Lá, fazer casa
para ter teto delas, não ficar morar casa emprestada de Companhia Pitanguy.
Edward Hosken
morava num chalé da Companhia Mineradora do Pitanguy, quase no fim da rua,
próxima da capela de Santa Quitéria.
O diretor da
mina, senhor Treloar, tinha colocado o chalé a disposição da família de Edward
Hosken, pois o mesmo ficava nas proximidades da mineração onde ele era o
Encarregado Geral.
Sem dinheiro
para consertos, o chalé ia sofrendo os rigores do tempo e Eduardo juntamente
com os filhos, já preocupados em construir uma nova casa para eles.
Da zona da
Mata vinha uma ajuda financeira dos filhos e com o dinheiro abençoado, Edward
Hosken comprou um terreno na ladeira que saia no adro da matriz.
Ali o pai
construiria a futura casa quando os filhos viessem passar uns dias em Catas Altas ; num
mutirão familiar, deixariam a casa levantada, dividida, coberta e assoalhada.
Com o tempo,
Totó terminaria as obras de acabamento e pintura.
Todo o plano
fora planejado pelos filhos e agora o pai e o Totó, estavam a caminho da
fazenda do Sô Raymundo para conhecerem o terreno que estavam planejando para
construir um retiro.
Durante a
viagem, conversaram sobre o que pensavam e ia observando a região e os terrenos
do Barbosa.
Mata quase
fechada, rasgada de trilhas para cavaleiros que residiam na região da Serra do
Pinho, Mato Grosso e São Miguel do Rio Piracicaba.
Totó ouvira
quase calado tudo que o pai dizia, na verdade uma vítima dos infortúnios que a
vida costuma preparar para alguns.
Seu pai nunca
fora de fazer confidências, certamente desabafava por tudo que ocorrera na sua
vida de minerador.
Apesar das
queixas tardias, Totó iria fazer tudo que fosse possível para dar ao seu velho
pai, um fim mais feliz.
Convocaria os irmãos
dispersos para o mutirão da casa para os velhos.
Construiria um
sítio onde o pai pudesse freqüentar juntamente com sua sacrificada mãe.
Lá criaria os filhos e netos que seus pais
reclamavam...
- Que estar
pensar, Totó?
- No futuro,
pai!
- Ah! é bom
pensar futuro...
A mata
recendia as essências, principalmente a uma que fugira do seu habitat; Pinus.
Eduardo sabia
que o pinheiro é raro nas zonas quentes ou temperadas, por isto comentou:
- A terra ser muito boa, pinheiro só dá em terras boas
e frias...
- Deve ser por
isto que a serra tem o seu nome, não é meu pai?
- Uns falar
que sim, outros que nome vir senhor
Pinho, que morar serra.
Depois de 2
horas de cavalgada, chegaram na propriedade do Sô Raymundo.
Latidos de
cães já se ouviam. antes mesmo de avistar a fazenda.
Estranhos como
eram, desceram das montarias com alguns cachorros rosnando ferozes, outros
acovardados latiam á distância.
Da varanda
ouviam-se gritos:
- Saí, saí
purgatório!
Quietos,
filhos da puta!
Como quietos
não ficaram, o jeito foi estalar os chicotes em represália, presos numa das mãos, enquanto a outra puxava
a rédea.
Na porteira do
curral, pararam para abri-la tateando com as mãos e de olhos nos bravos guardas
da propriedade.
- Calma
purgatório! Sossega Noruega!
Purgatório continuou
fervendo e Noruega investia contra as chibatadas.
- Ou pestes!
Fios da puta é tudo gente dereita!
Um negro
gritava para os cães e caminhava para espantá-los.
- “Barking dogs do not bite”!
- Que o senhor
disse?
- Palavras
minha língua, que dizer:
“Cão que
latir, não morder”.
Totó começou a
rir, pois os cães latiam e queriam morder...
- Brabos,
muita brabos, senhor Raymundo!
- Cachorrada
boa taí, senhor Eduardo!
Levando a mão
para cumprimentá-los, o fazendeiro desculpou-se:
- Os cavalheiros
por favor, desculpem os cachorros que estão no serviço deles...
Da minha
porteira para dentro, ninguém entra!
- Tá se vendo,
tá se vendo, senhor Raymundo!
Pela coragem
deles enfrentando os porretes, deram provas de que são capazes!
- Deixemos os
bichos e cuidemos de nós, disse o fazendeiro.
Eu já estava a
espera de voz Mecês, porém não dei conta que fossem os senhores, pois não me
lembrava do menino que o acompanha...
- Este é meu
filho Carlos Arthur, um dos mais novos.
- Vamos
entrando, vamos entrando, o Sol tá brabo!
Podem tirar o
chapéu, pois o calor tá banhando os
senhores.
O suor pingava
pelo rosto das visitas.
- Então é este
o moço que quer ser fazendeiro?
Batendo com a
mão espalmada nas costas de Totó, disse sorrindo:
- Moço
corajoso, ainda novo e comprando terras!
Vai enfrentar
de uma só vez, duas naturezas brabas!
O campo e a
mulher...
- É verdade sô
Viegas, vou seguir os mesmos passos de homens como o senhor, sem medo de
enfrentar as bravuras que Deus coloca em nossas vidas...
Sábias
palavras, meu filho!
Quem tem bom
siso, tem que ter também bom piso...
- Ah! Agora me lembro, voz mecê não é o tal moço do
sarau que recitou o verso?
“Moço chorão
por quem chora o coração...”
Eta festa que
a gente não esquece!
- Sou o mesmo
da brincadeira, sô Raymundo...
Falando
baixinho disse no ouvido de Totó:
- Quisera que
eu e Marcolina fossemos como voz mecês:
Gente
aprumada, corajosa como demonstraram no dia do sarau na casa do Dr. Moreira...
Eu nem sabia
que vossa mãe fala língua estrangeira, imagine!
Gente de Catas
Altas falando como Godeme; é claro que voz mecê, sô Eduardo, fala por
obrigação, mas dona Magdalena!!!
- Cada gente
seu saber, senhor Raimundo!
O senhor muita
grande fazendeiro, também “musician” e falar língua francesa...
- Nem grande
fazendeiro, nem músico e pouco menos falo o francês; tudo isto faço para
engabelar o povo, pois meu francês é falado como papagaio; decorado sem saber o que se fala...
As visitas
riram da simplicidade do fazendeiro, quando ele disse:
- Voz mecês
sabem que:
Cachorro
danado morre atazanado!
Sabendo que
voz mecês não estão danados nem atazanados, convido para que os senhores corram
a minha propriedade, antes do almoço.
Depois do
almoço e de uma pequena cesta, correremos as terras dos Barbosas.
- Os senhores
concordam?
“- Yes, that’s very kind of you!”
Às vezes
repentinamente o inglês se esquecia que estava conversando com um brasileiro,
que nada entendia de sua língua...
Pardon, eu
falo senhor muita, muita amável, pedir nós comer aqui...
- Eu sabia que
Voz mecês não iria arrenegar meu convite e já mandei aumentar a água do
feijão...
Da sacada da
varanda sô Raymundo olhou para um lado, depois o outro, não vendo quem queria,
gritou:
- Celestino,
ou Celestino!
Não aparecendo
quem chamava, foi para o sino dependurado na varanda e bateu com o pequeno
badalo, 2 pancadas consecutivas entre intervalos.
Um negro forte
sem camisas, veio correndo por baixo da varanda...
- Tô aqui Nhô,
qui ancê qué?
- Junta os
meninos prá toca o gado pro curral, só o leiteiro, o resto está longe, deixa
por lá...
O negro saiu
correndo se juntando as crias; todos
meninos machos nascidos na fazenda.
Para campear as vacas que estavam mais
distantes, montou num cavalinho veloz, esporeando-o sem que houvesse
necessidade; os bezerros estavam no pastinho, bem próximo.
Sobre o cavalo campeador, gritava para os meninos que
corriam a pé:
- Cambada de
mamparras!
Cês tá tudo de
lombriga?
Galopando no
animal em pelo, ele e o cavalo pareciam flutuar por cima da pastagem verde.
De longe se
ouvia o aboio já acostumado pelo gado e da varanda as visitas e o dono, viam o
vaqueiro aparecendo e sumindo por entre valos e moitas de árvores.
As reses
atentas, suspendiam a cabeça parando de abocanharem o capim meloso e de vez em
quando, respondiam o aboio com um berro conhecido do vaqueiro.
- Muita
bonita! Muita bonita para eu!
- Então o
senhor gosta da imagem do campo?
- Sim, faz
recordar eu, terra minha!
- Não tem
coisa mais bonita para mim, sô Eduardo!
Ainda mais,
quando o gado está domado e lustroso com o trato...
Em fila indiana, uma a uma, o vaqueiro sem pressa tocava as vacas que
paravam de vez em quando para arrancar um capim mais viçoso.
- Meu vaqueiro sabe que não pode assolear minhas riquezas, pois são
elas que me dão sustento.
As reses mais ariscas que tresmalhavam, os meninos campeavam numa
algazarra de se ouvir a quilômetros.
Meninos não fazem os mandados como devem, mas é assim que tem escola...
Os bezerros vendo as mães aproximando-se berravam como se não tivessem
amamentado há poucas horas.
Uma porteira batia com toda força no batente, largada por um pretinho
fechando o gado dentro do curral.
Gritos exasperados:
- Purgatório, fio da puta!
Saí fio da mãe...
Os cachorros tentavam morder os pés das reses mais atrasadas.
Apesar das admoestações aos caninos, os cachorros não ficavam zangados
com quem gritava, pois roçavam o corpo do vaqueiro.
Gratificados com o pastoreio, abanavam o rabo ganindo pela satisfação
do serviço que para eles era um passeio.
O gado mestiço de amplos chifres mostrava a gordura e o pelo liso;
sinal do bom trato e cuidados do seu dono.
O fazendeiro e as visitas desceram até o curral para ver de perto as
vacas disputando um lugar no cocho.
Olhando para Totó, disse:
- Menino! Se vai mexer com gado, não se esqueça do sal.
Sal tem tantas virtudes, que nunca pode faltar...
- Nhô, Sá Anastácia mandô avisá ancê que comida tá na mesa!
Os três foram até a bica do lado de fora, tomaram o sabão caseiro de
quadro e lavaram as mãos.
- Os senhores vão desculpar a falta da minha Totó, que está acamada a
mando do Dr. Moreira.
Ela só poderá levantar depois que passarem as tonteiras que vem
sofrendo.
Enxugando as mãos numa toalha trazida por uma escrava, o inglês disse:
- Eu fica triste doença dona Totó; minha mulher manda eu trazer
presente para ela e falar, ela não olhar valor presente.
- Não precisava da lembrança, Oh gente!
- Magdalena falar que: Não puder estar aqui, manda abraço e lembrança
dela...
Recebendo o embrulho sô Raymundo agradeceu em nome da esposa acamada.
- Se eu sabia doença dela, não vir aqui amolar senhores...
- Não se amofinem a Anastácia faz às vezes da minha patroa, é ela que
dirige a cozinha da fazenda.
Ao término da refeição, saíram para o varandão, hábito de todos os
fazendeiros para fazerem o quimo.
Bancos largos encostados a parede, convidavam para relaxar o corpo até
que a digestão se completasse.
O café servido numa bandeja de prata veio lá de dentro; o bule fumegava
irradiando o calor do café fervido na hora.
Esta, é a Anastácia de quem falei, cria da fazenda desde os tempos de
meus pais.
O inglês e o filho sentindo a importância que davam a aquela negra
cumprimentaram-na com um leve inclinar da cabeça.
- Sus Cristo, moços!
- Bom dia dona Anastácia, respondeu o filho do inglês.
Edward Hosken ficou olhando para a negra e se lembrou de Genoveva; como
pareciam!
Ainda observando a sósia da sua antiga escrava, retirou a bolsa a
tiracolo e sacou o cachimbo para fumar.
Lembrando que estava em casa alheia, ficou meio sem jeito se fumava ou
não.
- Senhor Raymundo fuma?
- Sim, gosto de pitar; fumo de rolo envolto em palha de milho.
- Muita trabalho fazer, senhor Raymundo!
- Na hora que preciso, mando Tibúrcio separar as melhores palhas no
paiol e raspá-las até ficarem transparentes, ele corta e põe naquela caixinha
de tampa que o senhor está vendo em cima do armário.
Na outra caixa, abastecida por mim, está o fumo cortado e esfarinhado
para receber a palha que eu enrolo com minhas próprias mãos.
A tardinha enquanto espreito a tarde se despedir e as estrelas acordarem, fico pitando o meu
fumo especial.
Totó gosta de assentar comigo na varanda; como ela não pita, nem enrola cigarro, fica alisando a
gata de sua estimação.
Maior caçadora de ratos da serra do Pinho...
- O senhor aceita pitar um dos meus cigarros?
- Muita gosto e querer para ver que melhor, se cachimbo ou pito.
Bem mais rápido do que o ascender do cachimbo, a palha pegou fogo com o
triscar da binga.
O inglês chupava a fumaça pelo canudo da palha.
Calados e soltando baforadas, a varanda encheu do cheiro ativo do fumo
de rolo.
O filho Carlos Arthur olhava os dois velhos degustando os cigarros e
teve a vontade de também experimentar.
Nenhum filho desrespeitava o pai ou pessoa mais velha, fumando em suas
presenças.
Deleitado com o cigarro, o visitante comentou:
- Lugar ótima, nenhuma lugar melhor que varranda!
- Eu também gosto de fumar aqui, sô Eduardo!
Lá fora o sol chapava verticalmente sobre o telhado, sem deixar rabos
de sombra.
- Vamos esperar os raios de o sol declinarem, pois até as cigarras
estão excitadas com o calor.
O inglês não sabia o que queria
dizer declinarem, mas concordou com o fazendeiro que ia guiá-los até o terreno
dos Barbosas.
O canto estridente dos insetos chegava a incomodar os ouvidos e o
estrangeiro intrigado, perguntou por que faziam tanto barulho:
- É a Estação do acasalamento senhor Eduardo!
- De que?
- De ajuntarem para reprodução...
- Bicho muita pequena,
não precisar gritar fazer amor!
O fazendeiro riu e a conclusão galhofeira do inglês fez surgir o
comentário xistoso:
- Imaginar homens, gritar assim
como cigarra, fazer amor...
Das valas das esterqueiras
recendia o odor curtido do estrume.
- Se eu moço, voltar cavoucar a
terra; não minerar, mas plantar e criar vaca, eu querer sentir cheiro bosta vaca, resto vida minha...
O inglês tinha razão, a mineração é estéril, ao contrário da pecuária e
da agricultura que revive todos os anos.
Pensar, sô Viegas!
Desde pequeno, eu minerar na Inglaterra...
Trabalhar, trabalhar e nada ajuntar para depois velho...
O senhor muita feliz, haver que deixar seus filhas...
É senhor Viegas, conversar bom, mas dar sono se não ir embora...
O sol não mais forte e precisar ver terra, senhor dizer muito boa...
- Então, vamos!
O fazendeiro ficou de pé e caminhou para o seu instrumento de
comunicação entre ele e os agregados mais à distância.
Bateu três pancadas ligeiras na sineta e depois, tornou a repeti-las.
- Tô, aqui Nhô!
Traga os animais para nós Tibúrcio e da uma apertada nos arreios.
- Sinhô sim, Nhô!
Ajustando as esporas, pegaram os chapéus e os chicotes e partiram para
a caminhada que teriam que empreender sob o sol causticante.
Na arrancada do galope, os animais estrebucharam e relincharam a um só
tempo.
Era melhor para eles galopando do que amarrados sofrendo picadas das
moscas que saiam das esterqueiras.
Purgatório o cão que recebera de mau humor as visitas, cruzava os pés dos animais como brindando-os
pelo que vieram fazer de bom; andava, parava levantando as patas e seguia em
frente latindo como se indicasse o
caminho a percorrerem.
Correndo em frente, de vez em quando parava para farejar os troncos das
árvores a beira do caminho.
Marcando a posse do terreno como se seu fosse, urinava nas raízes das
árvores deixando a marca característica dos caninos, para que os outros
soubessem que ali havia um dono.
Percebendo rastros de caça, saia latindo mata adentro em busca do bicho
que ele sabia o que era.
Afastado dos animais de sela, latia em sinal de espera, acuando o bicho
amarrado sob seus olhos atentos.
Não vendo e não ouvindo o sinal do dono, largava a presa e voltava ganindo
como se tivesse perdido o mundo.
Eduardo notou que o cão era acostumado a caçadas e comentou:
- Bom cheirador e olhar certo para bicho!
- Bom farejador é como se diz em português.
Ele está acostumado a fazer
caçadas comigo e com outros caçadores, enfrentando lobos e onças nestas serras.
- Então, bicho bravo anda terras suas senhor Raymundo?
Os bichos andam atropelando cavaleiros que passam por estas matas,
principalmente coelhos, pacas, tatus e tamanduás.
Região cheia de matas juntando as serras do Caraça, Gongo Soco,
Piedade, Tamanduá e outras.
Na marcha picada, o tropel dos cavalos era ouvido bem a distância,
apesar de encoberto pela mata luxuriante levavam os caminheiros sob a frondosa
sombra.
- Eu gosto daqui, exatamente pelo verde selvagem que esconde tanta
beleza, disse o filho do inglês.
Quanto mais matas senhor Viegas, maior valor das terras, resguardando
as cacimbas de nascentes que brotam agradecidas no seu sossego.
- É, mas as sezões também gostam das águas paradas!
- Mas nestes altos as águas não ficam estagnadas.
Descendo os morros do contraforte da serra do Pinho, eles chegaram ao
córrego na baixada dos Barbosas.
Os animais refrearam o galope e pararam para beberem a água cristalina
que se espraiava sobre o cascalho da baixada.
O cão acompanhava os cavalos fazendo mais barulho do que eles bebendo a
água.
- Vamos amarrar os cavalos por aqui mesmo e subiremos a inclinação morro acima com nossos próprios pés.
Então senhor Raymundo, do espigão prá baixo, até a ponte dos Perdões é
uma gleba só?
Sim, tudo isto pertence ou pertencia aos terrenos da Cachoeira de Santo
Antônio, que estão sendo inventariados.
Esta parte até a ponte dá uns 40 alqueires.
Acompanhando a margem do córrego, chegaram com muito custo, as
nascidas.
- Pouco caimento, sô Viegas!
Parece-me baixa para a serventia...
- Já me disseram que há outra cacimba a uns 20 metros de altura acima
do córrego; talvez esta dê para alimentar a propriedade que se fizer por aqui.
- Se há realmente esta nascida, não carece o trabalho de irmos até lá,
disse o filho do inglês; está muito quente para os senhores embrenharem-se pelo
mato...
- O que vejo em quantidade são as essências nativas, que serão
necessárias para a construção que se fizer por aqui.
- Isto é muito importante, pois estará quase a mão para puxá-las.
Ao lado da estrada, uma mata fechada cobria quase todo o terreno e as
águas que nasciam sob ela, banhavam os talvegues sinuosos.
- Que tal senhor Hosken?
Olha a quantidade de madeira de lei:
Jequitibás, Jacarandás, Jatobás, Ipês, Vinháticos e Cedros.
Grossas árvores cobriam todo o espaço onde a visão atingia.
Areia, cascalho e pedra também não faltavam...
O sol estava castigando as frontes e o suor corria sobre a face; o
corpo molhado pedia água e foi o que fizeram os três cavaleiros, retirando as
roupas e caindo dentro do córrego.
- Coisa melhor do Brasil!!!
- O que senhor Hosken?
- Tempo e águas, tomar banho!
O inglês lembrava da sua chegada em terras brasileiras há quarenta e
tantos anos...
Na Inglaterra não se tomava tantos banhos...
A desconcentração como agiam os três companheiros, despertou no jovem
Carlos Hosken, uma grande simpatia pelo lugar.
- Se o pai não comprar o terreno, senhor Viegas, compro eu ...
Imagine um lugar como este, a menos de 1 légua de Catas Altas!
Padre Manuel Mendes, já me falou que as terras da periferia de Catas
Altas, são próprias para vinhateira e cultura de frutos.
- Padre, Totó; sabe rumar céu para quem morrer, de terra nada
saber!
- Ora pai! Padre Mendes é um homem culto, já trabalhou em lavouras em
Portugal e vai começar a ensinar os moços de Catas Altas sobre diversas
culturas...
Ele anda a falar que não se pode mais pensar em ouro que acabou; agora
é voltar os olhos para a terra e cultivar o que vamos comer...
- O padre tem razão senhor Hosken, até no Pary o ouro sumiu e todo
mundo está deixando o arraial de São Francisco.
Desde 1.875, Catas Altas começara a dedicar-se mais às culturas, fonte
de riqueza honesta como dizia o padre e
até economias o povo estava fazendo na Caixa Econômica de Ouro Preto.
Sinais de mudanças dos tempos incertos para momentos certos...
Totó queria fixar raízes para casar-se com a moça que desde menino
dedicava simpatias.
Por isto, compraria o terreno do Barbosa para cultura e criação de
gado, foi o que declarou ao companheiro de viagem, senhor Raymundo Viegas.
Dentro do riacho do Barbosa, aquela conversa despertara o desejo do
rapaz em construir ali uma morada toda especial.
Ele mesmo com os ensinamentos do padre Mendes, construiria a fazenda e
suas benfeitorias.
Além das plantações de roças, manteria pastagens para alimentar o gado
que abasteceria a fazenda de leite.
O padre Mendes entrosando-se com a sociedade, começara a dar diversos
cursos na paróquia.
Para os homens, noções de cultura moderna com introdução de arados,
cereais próprios a natureza da terra, cultura da cana para fabricação do
açúcar, cultura de mandioca para fabricação de farinha.
Aproveitamento dos pomares para fabricação de doces, licores e sucos.
Para as mulheres, cursos de culinária, costuras e bordados.
Com o pensamento nos ensinamentos do padre, Totó aproveitaria a
experiência dele para aprender tudo que ele pudesse passar de teórico e prático
ao jovem sem experiência.
Além da cultura religiosa e da visão moderna, o padre era pau para toda
obra e se metia em tudo que pudesse dar ao povo, auxilio para melhores
condições de vida.
Em pouco tempo, espalhou mudas e sementes selecionadas para cultura da
cana, mandioca, milho, feijão, arroz, verduras e cepas de videiras.
Não contente com o que ensinava, mandava buscar oficiais carapinas e
marceneiros para confeccionarem aparelhos e objetos para as novas atividades
que introduzia em Catas
Altas.
De Santa Bárbara veio o oficial tanoeiro, chamado Manoel, que acabou
sendo conhecido pela população como: Manoel Tanoeiro.
O sobrenome perdeu-se na memória do povo, mas a função gravou-se ao seu
nome.
Nas diversas atividades que o padre encaminhava o povo, uma em especial
era do seu interesse, pois a igreja necessitava de bons vinhos, cuja importação
ficava cara às irmandades mantenedoras das igrejas.
Para fabricação de vinho em larga escala, ele preparou e redigiu compêndios sobre Cultura de Vinhos,
para que pudesse repassar a seus alunos, uma vasta matéria.
Por ser longa a matéria, eis algumas partes do que deixou registrado e
ensinou aos seus alunos, especialmente a Carlos Arthur Hosken.
CULTURA DA VINHA E O VINHO
“Vi num lae tificat cor hominis, disse o Espírito de Deus, nos salmos e
pelo sábio eclesiástico”.
E qual será o homem, descendente de Noé, e por conseguinte,
habitante deste planeta terráqueo, que
não deseje uma pinga, não aprecie um copinho do róseo sumo da uva, e molhe a
palavra e se anime a novos cometimentos?
Se já em remotos tempos, uns mestres da eloquência, não prescindia de
render culto a esta substância, companheira do homem na paz e na guerra!
Descendentes de portugueses, em sua maior parte, os brasileiros gostam
do vinho em suas mesas, maxime quando deve haver gáudio em casamento e
batizado...
. Aonde, porém, encontrar
vinho? Perguntava eu?
. Oh! Reverendo, em todos os negócios por aí, há com fartura:
Deseja tinto, branco, ou porto?
Amigo, sejamos razoáveis; não vamos com tanta sede ao pote.
. Tenho visto ou ouvido falar de um folheto:
- “Noções úteis ao fabricante de vinho”. Impresso no Rio de Janeiro, e
escrito por um tal que mora em Minas!
Eis o teor do que escreveu o dito cujo sobre a matéria:
NOÇÕES
ÚTEIS AO FABRICANTE
DE VINHO
1. - A História do
Vinho:
O vinho é
conhecido desde os tempos mais remotos.
Os hieróglifos
dos antigos egípcios, e babilônios fazem referências ao vinho.
Os chineses já
preparavam-no 2.000 anos antes de Cristo.
Os Feníncios ao
chegarem na Espanha, onde fundaram Cadiz, plantaram uvas e produziram o vinho.
Os romanos
levaram a cultura da uva e a produção do vinho por todas as partes do seu
extenso império.
Baco dos
romanos, ou Dionísio dos gregos, é o deus do vinho.
Os romanos
tinham vários tipos de vinhos, que denominaram:
“Coecumum, lerno, mamertino, etc.
“
Eles
adicionavam ao vinho, o mel ou resina, para segundo julgavam, conseguir maior
conservação.
A Bíblia fala
do vinho em diversos capítulos; O Gênesis relata o episódio de Noé que, depois
do dilúvio, ao sair da arca, começou a cultivar a terra; plantou a vinha e
bebeu o vinho.
Nas leis
relativas aos sacrifícios, há determinação da medida de vinho para as libações
da oferta.
O livro do
Eclesiástico diz que:
“ Assim como
brilha mais um sinete de esmeralda encastoado
em ouro, assim a harmonia da música melhor se logra entre um alegre e moderado vinho.
Jesus em uma de
suas parábolas, compara o reino dos Céus a um pai de família, que ao romper do
dia, saí para contratar operários para sua vinha.
São Lucas em seu Evangelho , narra
outra parábola de Jesus:
“Ninguém coloca
vinho novo em odres velhos, doutro modo, o vinho novo fará rebentar os odres e
derramar-se-á o velho e perder-se-ão os odres.
Mas o vinho
novo deve deitar-se em odres novos e assim ambas as coisas se conservam.
É ninguém
depois de ter bebido vinho velho, quer imediatamente beber um novo, porque se
diz:
"O velho é
melhor”.
Transformando a
água em vinho, nas bodas de Canã, Jesus realizou o seu primeiro milagre e
bebendo do fruto da videira, fez a última ceia com seus apóstolos.
Muitos tipos de
vinho, que hoje são tomados, conservam as características básicas, formuladas
na antigüidade por povos que se fixaram em determinados pontos da terra.
Na região de
Borgonha, por exemplo, que foi celeiro do império romano, não só o tipo do
vinho ficou, mas algo da tecnologia de sua fabricação, como a introdução dos
tonéis de madeira.
2. - Como é feito o
Vinho:-
A safra ou
colheita da uva, também chamada vindima, ocorre a cada ano e o clima em
determinados anos, contribui para a qualidade superior da uva, que pode levar a
um vinho melhor.
Conhecedores de
vinho utilizam o ano da safra como um dos fatores de referência para avaliar a
sua qualidade; o conjunto de operações necessárias para a fabricação do vinho é
chamada de “Vinificação”.
Colhidas as
uvas, elas são colocadas numa laga, prensa onde são esmagadas.
Em alguns
lugares o esmagamento é feito com os pés, o que eles chamam de “Pisa”
Também existe o
processo misto, em parte feito pelo esmagador mecânico e completado pelos pés
dos vinicultores ou seus empregados.
Após o
esmagamento, geralmente coloca-se algum produto químico específico, o
purificador, que deixa viver a levedura e destrói, paralisando a ação
prejudicial das bactérias
Depois, o suco
( mosto ) é bombeado para os tanques, onde vem a ocorrer a fermentação, que
transforma o suco em vinho.
A temperatura
do mosto eleva-se progressivamente e o açúcar é transformado em álcool e
anidrido carbônico.
A fermentação
chamada de alcoólica deve realizar-se entre 25 a 27 graus centígrados de
temperatura, para que seja exclusivamente alcoolica e não apresente
fermentações secundárias que venham a prejudicar o vinho.
A fermentação
completa redundará num vinho seco, e se interrompida, dará o vinho doce.
Os vinhos
espumantes originam-se de uma segunda fermentação que vem a provocar borbulhas,
daí o aspecto físico do líquido. cheio de bolhas...
Para produzir o
vinho tinto, coloca-se as cascas de uvas com o mosto nos tanque de fermentação.
Para produzir o
vinho “Rosé” as cascas devem permanecer por menos tempo.
Para fabricação
do vinho branco, as cascas são retiradas do mosto.
Ao contrário do
que muita gente pensa, o vinho branco além da uva branca, leva também as uvas
tintas, desde que não sejam as castas chamadas tintureiras.
No caso de uso
de uvas tintas, estas devem ser esmagadas de modo que o mosto não esteja em
contato com as películas, parte da baga que contém a matéria corante.
Depois da
fermentação, o vinho é colocado em tonéis para envelhecer e formar o seu sabor,
o buquê na linguagem dos provadores.
Geralmente
estes tonéis são de grande porte, para conter toda ou parte da safra anual, que
permanecerá fechado e imóvel, maturando para o que se chama de envelhecimento.
Dependendo do
tipo do vinho, o seu envelhecimento pode levar anos.
Nesta fase,
deve ser depurado sucessivamente através de troca de tonéis para livrar-se de
partículas em suspensão, que vão sedimentando-se no fundo dos tonéis.
Para
engarrafamento em vasilhame completamente limpo depois de maturado, deve ser filtrado, arrolhado, lacrado e rotulado.
O vinho é muito
sensível a cultura da videira e do
processo de seu fabrico.
Ele deve sua
qualidade, também a cepa de sua origem.
A cepagem dá a
base para o produto final.
Toda videira
tem características próprias de família e espécies, a hereditariedade é
fundamental para o bom vinho.
Associam-se a
videira as condições de solo e do clima, principalmente o tempo atmosférico na
ocasião das vídimas.
A raça, que é
conhecida por (classe) do vinho, é estreitamente ligada a esses fatores, que
começa no campo e vão até aos cuidados de sua preservação nas garrafas, seja
nas adegas ou nas prateleiras, tarefa dos usuários e amigos, apreciadores de
uma nobre bebida.
3. - Como Guardar o
Vinho:-
Muitos
apreciadores de vinho tem ou desejam ter
adega em sua casa ou nas vendas.
As adegas
caseiras sempre preservaram a maneira antiga de confeccioná-las; levando em
conta a experiência dos fabricantes de vinhos que vem de longos séculos.
O vinho é
inimigo da luz e gosta de temperatura ambiente, havendo alguns que podem ser
gelados, quando serão servidos de imediato, colocando o vasilhame em salmoras.
A adega deve
ser localizada conforme os caprichos do vinho.
Ao lado da
importância da matéria prima, procedência, fabricação e higiene, o vinho requer
conservação, como todo o ser vivo, ele sofre problemas fisico-químicos que
precisam cuidados especiais para não se alterar.
Ele tem
necessidade de descanso, última fase do longo processo de sua maturação, até
seu engarrafamento.
A posição ideal
da garrafa guardada é a horizontal ou inclinada; essa posição possibilita o
umidificação da rolha, tornando-a fácil de se tirar ao abrir a garrafa.
A posição
horizontal impede trocas com o meio, perda do teor alcoólico e de outros
elementos que formam o seu sabor; do mesmo modo, a impermeabilização do
oxigênio, afasta o desenvolvimento de microrganismos que alterarão o produto,
fazendo surgir uma fermentação indesejável, que avinagra o vinho.
Por este motivo
os produtores lacram o gargalo protegendo a rolha.
A temperatura é
outro fator importante; as garrafas devem ser colocadas em locais frescos, Se o
sol tem influência negativa ao vinho, o excesso de frio também deve ser
evitado.
Da mesma forma,
as oscilações rápidas de temperatura prejudicam a bebida.
Nunca colocar a
adega próxima de fogões ou lugares ventilados.
O vinho tolera
alterações de temperatura, desde que sejam lentas e gradativas.
As vibrações
também são prejudiciais ao vinho; diz-se que o vinho é amigo do silêncio.
Guardado, ele
quer sossego.
O rótulo deve
estar sempre para cima, para que ao ser visto, se saiba qual é sua
qualificação, sem agitar o conteúdo virando a garrafa.
A adega é um
recolhimento quase místico para o vinho.
4. - Degustação: -
Degustar um
vinho é perceber o seu sabor.
O técnico, um
provador profissional, prova-o para definir sua classificação ou verificar se
está perfeito.
O conhecedor de
vinho, pela degustação, conhece-o pelos cinco sentidos; onde está incluído até
a audição, pois alguns peritos definem um tipo classe “A” pelo barulho
específico ao derramar da garrafa.
A avaliação
pela visão se faz através da cor, tonalidade, consistência, limpidez, fluidez e
presença ou ausência de efervescência e de outros elementos que prejudicam-no.
O aroma ou
buquê é percebido pelo nariz e pela boca, o chamado aroma da boca, que
transmite as sensações do olfato.
O gosto é
percebido pela boca, principalmente pela língua, onde residem as sensações de
doce, amargo, e de acidez.
À boca, também
se junta a língua e mucosa para perceber as sensações tácteis de aspereza,
delicadeza, adstringência e caloria.
Para essas
percepções, salgadas, e aromas, como o gosto em geral, a boca deve estar
completamente livre de substâncias alimentares, até dos resíduos do cigarro.
5. - Composição do
Vinho:-
Considerando-se
as calorias, o vinho tinto deve dosar 55 calorias por copo.
O branco, 35
calorias.
O Porto, 75 calorias.
O champanhe, 35
calorias por copo.
A água tem
maior porcentagem em sua composição e vai de 80% a 85%.
Os vinhos
possuem teor alcoólico variáveis entre l2 e l7% do seu volume e assim são as
mais leves entre as bebidas alcoólicas.
O álcool
possibilita a conservação do vinho e auxilia o desprendimento do seu aroma.
Um vinho de 10
graus G.L. tem o correspondente em álcool
puro; ele deve estar diluído no vinho em harmonia com outros
componentes, sem dominá-lo.
O açúcar, que
não foi transformado em álcool no processo de fermentação, permanece no vinho.
Nos licores, a
presença do açúcar é mais acentuada.
Os pigmentos ou
matéria corantes, provenientes da uva subsistem no vinho e sofrem alterações no
decorrer da sua idade.
O tanino
encontrado na sua composição , proveniente das cascas e sementes da uva, é um
elemento anti-séptico que influi na cor e em sua composição.
O glicerol ou
glicerina, confere a untuosidade ao produto, dando a maciez ao ser bebido.
Os ácidos vêm
dar ao vinho o seu equilíbrio e o excesso de acidez, torna o vinho imprestável.
Sais minerais,
como cálcio, ferro, magnésio, potássio. sódio, etc. além de matérias
albuminóides e componentes de vitaminas, úteis ao organismo humano,
encontram-se em sua composição e por isso se diz que o vinho é alimento.
6. - Tipos de Vinhos:-
Enologia, no
dizer dos dicionários, é o conjunto de tudo quanto se diz a respeito da arte de
fabricar e conservar o vinho.
Enologia é um
tratado dedicado ao vinho; “ENO” é o prefixo da palavra que quer dizer em
grego, “OINOS” ou vinho.
“ENÓLOGO” é o técnico em vinho.
“ENÓFILO” é o amigo do vinho.
Como se pode
ver, o vinho através da história arregimentou um vocabulário amplo, próprio e
completo, sua denominação se deve a todos os elementos que o constituem.
ROBUSTO: É o
vinho forte e bem caracterizado em sua identidade.
MACIO OU
REDONDO: É o vinho substancioso e suave.
BRUT : É o
seco, geralmente dito para o champanhe.
O vocabulário é
extenso e seus termos vão sendo aprendidos
pelo enófilo.
O vinho tem sua
roupagem, que se define em sua cor e limpidez, dentro das variações de
tonalidade, intensidade e consistência.
Eles têm seus
nomes da região de origem onde são produzidos, dos seus fabricantes, ou muitas
vezes simplesmente escolhidos em homenagem a um local, um chateou, ao
proprietário da Viti ou vinicultura ou a alguma pessoa, como no caso do
champanhe Dom Pérignon, o abade que manipulou sua fórmula.
A lista de
nomes é extensa, pois são milhares em todo o mundo.
Quanto a
qualidade ele pode ser:
Tinto, rosado
ou branco; considerando-se as ocasiões em que deva ser tomado.
Podem ser
classificados em vinhos aperitivos, de mesa, de sobremesa e espumantes.
Em relação ao
seu teor, que ficou remanescente da fermentação que lhe dá o sabor, o vinho
classifica-se em seco, meio-seco e doce.
O tipo seco
ocorre quando todo o açúcar foi transformado em álcool; Meio-seco, quando ainda
contém parcela de açúcar, em torno de 5%.
O tipo doce,
quando tem o teor maior que 10% de açúcar.
O Conhaque,
nome que vem de Cognac, região da França, entra na família dos vinhos; é um
destilado de vinho, de graduação alcoólica de 38 graus, G.L.
O Vermute é um
aperitivo preparado a partir também do vinho.
7. - O Vinho nas
Refeições:-
O vinho tem
determinadas regras para o seu uso nas refeições.
Elas não foram
estabelecidas ao acaso e sim porque cada tipo, combina com determinado prato,
de modo que realce o sabor de ambos, sem um sobrepor ao sabor do outro.
Os vinhos
aperitivos são servidos para estimular o apetite ou simplesmente para serem
tomados antes das refeições.
Variam do seco
ao doce.
Em se tratando
de serem servidos antes das refeições, a maioria prefere os secos.
Existe um tipo
novo, o gaseificado, que pode ser tomado sozinho, ou servir como aperitivo,
acompanhado de petiscos.
Vinhos tintos
de mesa são os mais fortes e destinam-se a acompanhar o prato principal de uma
refeição, desde que seja adequado ao prato, como assados e massas.
Os tintos são
servidos a temperatura ambiente.
Os nomes
genéricos mais conhecidos são o Borgonha, Clarete e o Chianti, que vem numa
embalagem especial de palha trançada, envolvendo a garrafa bojuda de gargalo
comprido.
Vinhos rosados
ou rosés, são espécies de vinhos neutros, que servem para todas as ocasiões.
Podem
acompanhar a qualquer tipo de comida e são servidos gelados.
Os vinhos
brancos, acompanham pratos de paladar mais delicado, como peixe ou frango.
Apresentam
variações de cor, que vai do amarelo pálido a tons mais fortes e de paladar
doce ao bem seco.
São servidos
gelados; entre eles são mais populares os Hablis, Reno e Sauterne.
Entre as
variedades, estão incluídos: O Hardonnay, Semilolon e o Resling.
Inclui-se pelo
seu sabor especial os novos vinhos fabricados em paises não tradicionais em vinicultura, como os da
Alemanha.
Os vinhos servidos
como sobremesa podem também ser servidos
como aperitivo.
Os mais
apreciados e conhecidos são:
O Madeira, o
Porto e o Jerez.
O Madeira com
duas variações: Seco e o doce, é produzido na ilha do mesmo nome.
O do Porto,
tinto ou branco, é produzido na região do vale d’Ouro, bem como em outros
lugares próximos; leva o nome de Porto, porque nessa cidade portuguesa tem seu
principal centro de comercialização.
O Jerez, citado
por Shakespeare, é originário da Andaluzia, Espanha, cujas vinhas
antiquüíssimas vêm dos tempos dos fenícios.
Também com as
variações de nome Xerez ou Sherry, são produzidos em outros países.
Vinhos
espumantes são aqueles que têm espumas, borbulham porque contém dióxido de
carbono.
Podem ser
tomados com qualquer alimento, mas comumente são usados em ocasiões festivas; o
principal deles é o famoso champanhe.
As regras para
os vinhos nas refeições completam-se:
Os Leves: Devem
ser servidos antes dos mais pesados e os secos, antes dos vinhos doces.
Os vinhos
servidos gelados devem conservar sua temperatura no ambiente que é servido,
caso dos países europeus.
O vinho exige
um copo especial para cada tipo.
O design do
copo adequado para cada tipo, vem através dos tempos e foi uma longa procura, como encontrar a cada
tipo de vinho um recipiente adequado.
O copo deve ser
de cristal ou vidro transparente, sem decorações; todo copo para o vinho, deve
ter o pé, para evitar que o calor da mão, altere sua temperatura.
Os copos para
os vinhos tintos devem ter a tulipa mais fechada e para os brancos, mais
aberta.
Já os vinhos
aperitivos e licorosos, que são tomados em menor quantidade, serão servidos em
cálices.
O champanhe tem
taça especial, conhecida tradicionalmente como taça de champanhe.
O conhaque
deverá ser servido em copo taça-balão com a boca mais estreita que o bojo.
8. - O Vinho no
Brasil:-
Martim Afonso
de Souza em 1.532, introduziu as primeiras videiras no Brasil, na capitania de
São Vicente.
Brás Cubas,
fundador de Santos, foi nosso primeiro vinicultor; Duarte Coelho iniciou a
plantação da videira em Itamaracá na Bahia; depois incentivado pelos
holandeses, na região nordeste de suas ocupações.
Segundos dados
da história, a videira foi introduzida no Rio Grande do Sul, em 1.626 pelo
padre Roque Gonzales, nas Missões Jesuíticas.
A cidade do Rio
Pardo é o berço da vinicultura de alta produção gaúcha de vinhos.
Em 1.8l3, o
açoreano Manoel de Macedo Brum, iniciou a fabricação de vinho; a iniciativa foi
registrada em documentos oficiais.
Ao se criar a
Junta Comercial no Rio de Janeiro. ela expediu num dos seus primeiros
documentos a pedido de Brum, a dispensa do pagamento de dízimos, devido a
grande utilidade que se seguirá da cultura das vinhas e do fabrico de vinho,
criando-se um novo ramo de artigo de comércio e de exportação.
Portugueses
continuaram a plantar nas imediações de Porto Alegre e na ilha dos Marinheiros
em frente da cidade de Rio Grande, estendendo a outros municípios, como Pelotas
e São Lourenço, onde também plantavam os colonos franceses.
Os alemães
vieram a se juntar, em outros pontos, aos imigrantes produtores da uva no
Estado.
Imigrantes
italianos tinham produção caseira de vinho e foram principalmente a eles que
intensificou a produção de vinho a partir do ano de 1.870.
Na região da
serra do Caraça, a primeira notícia de uma videira plantada, se deu exatamente
no colégio daquela serra.
As cepas vieram
do Hospício de Sabará a instâncias do padre Manuel Mendes Pereira, e colhidas
pelo padre Cândido Alvarenga, no ano de 1.864.
Em 1.868, padre Manuel Mendes dá notícia de um pé de videira americana
plantada pelo irmão de Maria Magdalena Mendes Campello Hosken, a esposa do
inglês Edward.
Sobre ela, dava notícia:
- Cepa trazida de Rio Preto, por Fernando Mendes Campello como fruto de
quintais e para bebidas caseiras.
Estas cepas foram as primeiras mudas do vinhedo do Caraça e mãe de
todas as demais plantadas em
Catas Altas do Mato Dentro, que em 1.887, produziria 78
respeitáveis pipas de vinho.
Nota-se pelas informações do padre Mendes que, a produção de vinhos no
Brasil, tanto em Minas como no Rio Grande do Sul, são de uma mesma época.
Cidades como: Bento Gonçalves,
Garibaldi, Farroupilha, Flores da Cunha e Caxias do Sul, foram as pioneiras
na produção de vinho no sul, Catas Altas do Mato Dentro, no centro do Brasil.
Logo ao início da expansão vinícola, foi difícil aos produtores,
concorrerem com o produto europeu e especialmente aos vinhos de Portugal.
Era mais fácil comprar o produto estrangeiro, colocado pelo transporte marítimo, que o produto
brasileiro transportado por lombo de burros.
As arquidioceses brasileiras procuravam sensibilizar a disseminação da
vinicultura; necessária a produção de vinhos para os atos litúrgicos.
Minas, o estado de maior população, com um clero religioso nas mesmas
proporções necessitava de uma cultura vinhateira que pudesse dar sustento as
necessidades comerciais da época.
Coube a visão do padre Mendes, a introdução da cultura da vinha e
conseqüente iniciação da produção de vinhos em Catas Altas e é a ele
que se deve a iniciação de Carlos Arthur Hosken no ramo da vinicultura.
Não bastava ao sacerdote o grito contra o marasmo que a mineração do
ouro deixara a colonial Catas Altas; era necessário que um homem voltado as
coisas de Deus, regaçasse as mangas como exemplo iluminado pela Providência
Divina, pegasse na foice, machado e
enxada e mostrasse como lidar com o campo...
Na falta de compêndios para ministrar seus ensinamentos, escreveu ele
com suas próprias mãos os manuais que ensinaria
ao povo como plantar.
Ministrando durante os 10 primeiros anos, seus ensinamento e catecismo,
implacavelmente combatia os pecados capitais, entre eles a preguiça que
assolava a terra para a qual fora designado como coadjutor do padre Francisco
Xavier de França.
Como bom pastor, cuidava do seu
rebanho levando-o ao seu aprisco.
Como homem, conquistara simpatias a ponto de ser chamado por toda a
população de: “PADRINHO VIGÁRIO”.
Foi graças a esse padre que, Carlos Arthur Hosken encontrou o seu
caminho profissional e por que não dizer, também a sua fé, pois o moço filho do
inglês anglicano Edward Hosken, vacilava entre a religião do pai e da mãe
brasileira.
Convivendo com o padre Mendes, assistindo seus ensinamentos nas aulas
práticas que ele dava nos viveiros da casa Paroquial e nos quintais do Dr.
Manoel Moreira de Figueiredo de Vasconcelos e do outro não menos ilustre
cidadão desta terra, o senhor capitão Domingos Vieira, Totó recebia as noções
práticas que complementariam os estudos elaborados pelo padre.
Assumindo a condição de proprietário das terras da margem direita do
rio dos Coqueiros, (Terra dos Barbosas) uns dos primeiros convidados levados
por Carlos Arthur, a conhecê-las foi o seu mestre de Vinicultura o padre Mendes.
Como conselheiro do jovem, o mestre ajudava a ordenar o projeto do
futuro retiro que ele batizara com o nome de: “Retiro da Boa Esperança”.
Farto em madeiras de lei, a mata foi derrubada, a madeira carregada,
lavrada e depois serrada; estavam sendo dados os primeiros passos para
construção do retiro...
Gente arrebanhada nas proximidades de seu terreno, começaram a levantar
inicialmente as cobertas que abrigariam: O engenho, e coberta de leite.
Chico Crioulo, ex-escravo alforriado de dona Antônia Marcolina
Ferreira, a dona Dindinha Totó, com a Lei dos Sexagenários, (Saraiva-Cotegipe),
foi libertado e liberado para trabalhar com o filho do inglês, Edward Hosken.
Com ele veio, mulher e filhos, fixando-se na Boa Esperança.
Seu filho Olímpio, tornara-se mão direita de Totó, nas construções que
estavam sendo levantadas; inteligente e trabalhador, aprendeu com seu patrão o
ofício de carpintaria e pedreiro.
Outro moço das imediações, José de Souza fazia os trabalhos das plantações juntamente
com seu irmão Constantino.
Estava montada a equipe que por muitos anos operaria na vinha, plantações e cuidados com os
rebanhos.
A coberta, primeira construída no terreno abrigou depois de dividida:
Os cômodos de arreios, carroças, quarto dos leiteiros e demais
agregados homens.
Depois de levantada a casa da fazenda, a coberta serviria também para
local de ordenha.
Foram estes os primeiros favos de uma grande colméia em que se
transformaria posteriormente o Retido da Boa Esperança.
Três currais amplos ligados entre si por porteiras e a grande coberta
foram a obra erguida como segunda etapa.
A terceira etapa, Totó mais habilitado pela experiência e com mestres
de obras contratados, levantou a casa, coberta de fornalha e forno.
As quartas etapas, já morando na propriedade, foram construídas: A casa
da fábrica de açúcar, geminada a grande adega e os cômodos de depósitos.
Na continuação da grande coberta da adega, o paiol com suas máquinas
beneficiadoras.
Na parte mais baixa, periferia da casa, afastada l00 metros, o moinho alimentado
pelo canal de águas que descia do pasto de cima.
A casa construída ao molde do colonial, com seus telhados de 4 águas,
tinha do lado da frente na fachada e no lado dos fundos, varandas acolhedoras.
Com bancos largos encostados nas paredes, era o ponto de espia para
vigiar quase todas as atividades que desenrolavam na propriedade.
O sol entrando de viés, insolava as varandas e os dormitórios.
No centro, as salas de visita e refeitório, comunicando-se com os
cômodos internos e as varandas.
Em nível a 40 cm .
inferior a parte social, os quartos de casal, e
das crianças que viriam, dando
visão por largas janelas ao grande pomar e jardim da Nhanhá.
Nos extremos das varandas externas, os quartos de visitas, resguardando
a intimidade do casal e dando mais liberdade a seus hospedes.
A despensa com janela para o pátio interno do fundo da casa ficava em
frente à longa coberta da fábrica de Vinho (Adega).
A construção seguia o projeto elaborado por Totó.
Nos primeiros meses de 1.883, em vários domingos Nhanhá veio a passeio
com seus irmãos, para ver como andava as obras da futura morada.
Alegres as moças aproveitavam para nadar no córrego dos Coqueiros,
enquanto os irmãos homens saiam a caçar na Serra do Pinho.
O parreiral que no futuro abasteceria a vinicultura estava sendo
iniciado, e Nhanhá quando vinha visitar as obras do retiro, trazia mudas de
frutas e flores para que Zé de Souza plantasse.
Todos que visitavam o retiro implicavam com uma área enorme arada junto
da casa em construção e ninguém via a roça vingar; era o local da vinha que
começara a ser plantada com as cepas que vinham de Catas Altas.
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